O silencioso canto das aves migratórias

O silencioso canto das aves migratórias

domingo, 28 de setembro de 2014

Ainda me visitas nas minhas noites de desassossego
os muros não são opacos quando chegas
e eu ainda sinto o calor do teu colo
os jarros já secaram há muito na jarra da mesa da cabeceira
ainda me lembra quando os regavas e apanhavas 
no pequeno jardim debaixo da janela

eram os jarros e as hortensias que perfumavam os nossos dias
e o teu colo cansado abrigava-me dos temores
é esse o odor que trazes contigo quando me visitas
a flores do campo,a massa levedada acabada de amassar
o cheiro do forno a lenha
a urzes do campo,a madre silvas,a amoras maduras

ainda me visitas nas noites de insónia
os teus olhos ainda brilham como quando eu te via chegar
já não trazes no regaço as maças maduras
nem o pedaço de ternura que bebia sôfrega de ti

Agora pareces-me esse pássaro triste
essa magoa ausente sem voz
o vazio das tuas mãos ,calejadas
o silencio das aves que partem
sem dizer adeus.

São Gonçalves.

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