domingo, 12 de abril de 2015

Abril chegando na luz de uma frágil flor
a solidão da terra abrindo-se
em flor de renascimentos
A vida brotando no coração da terra 
endurecida pelo inverno
como uma lágrima
brotando de um rosto
rugoso da vida!
Abril,milagre de luz
sensualidade majestosa
no ventre da primavera!
São Gonçalves.
Germinam cidades rubras no coração do sol
magnas efeverscentes olhando o universo
e as sementes do homens esquecidos
na podridão do mundo
Não há árvores , nem seiva , nem água
não há mundos subtarraneos onde se escondem
as almas perdidas na escuridão
apenas luz, cor, vida
e cidades de labaredas quentes
É esta a força dos elementos
que acorda os homens
a forte irradiação da luz
São esta as cidades gravitando
no deserto da imaginação
São Gonçalves.
"Filha sou do mar
que me trouxe à praia sentada nas ondas
vestida de algas e anémonas.
O vento é o meu corpo
que se une ao rochedo maior
numa noite de maré vaza."
Lilia Tavares

De ondas te vestes nas manhãs claras
a poesia da maresia branca
nos cabelos ondulantes, poemas ondulando
filhos do vento, nascidos de ti.

São Gonçalves.
De que resta do tempo nas linhas do corpo
nesse caudal de dores invisíveis
tão vincadas nas rugas do rosto
dessas amarguras sem tempo
nascidas de um ventre,tantas vezes violado
com força,sem medo nem preconceito.

Do tempo em que as hemorragias
eram caudais vivos a jorrar do teu corpo
na violência da idade
apenas travadas na fecundação da vida.

De que resta desses homens que carregaste no ventre
e no colo, desses seres que te roubaram as noites
a calma dos dias,o sossego do corpo.

Esses que te vendem,que te batem,que te exploram
debaixo de poderes sem nome,de culturas seculares
esquecendo o calor do ventre,a meiguice do teu colo.

De que resta de ti,de mim,da nossa condição
dessa força emanada das mais profundas crenças
da matriarca do mundo...

Resta apenas o silêncio e a incompreensão
a dor e a revolta dos dias da desumanização!

São Gonçalves
 —

Paz

Na quietude dos dias sem gloria
na serenidade dos rios 
ouço a tua voz
muda de desejos
calada a cidade do desespero
nas madrugadas silentes
desenhadas nos contornos
da minha pele.

A musicalidade silente,sensivel
do cantar do vento
uma melodia de ternura
no repouso das labutas !

Peço apenas qualquer coisa
do nada imenso que me transforma
em tudo!

E assim retomo a paz em círculos de harmonia
e meditação.

São Gonçalves.
Não, hoje não tenho palavras 
Silenciei-as num olhar ausente
Derramei por elas todas as lágrimas
Todos os desencantos

Hoje apenas quero o aroma
Do sal do esquecimento.

São Gonçalves.
Primeiro o toque suave ,a cor madreperola beijando o rosto
a luminosa floração do corpo,os gestos suaves e ternos
o renascer de um sentimento inacabado
que se teria ausentado!
Primeiro o contacto com a luz tímida e intemporal
o afago do sol num corpo desnudo
o som das aves chilreando ao longe
o alimento do sonho que regressa a medo!
Depois ,o encantamento e a entrega
ao tempo da floração da luz!
São Gonçalves.
Quando a leveza te abraça
O corpo ,os gestos, a alma
Despojos de coisas inúteis 
Arrancadas devagar
Ternamente, num bailado silencioso
Como um pedaço de ternura
Enlaçadas ao perfume do tempo.

Nesse momento, amas, sentes
Renasces numa coreografia de gestos
E no desapego do momento
Reinventas a sabedoria
De seres a feminilidade magestosa.

São Gonçalves.
Intenso o desejo do toque na ponta dedos, intenso o vibrar do corpo na nudez exposta sem medo. 
Sinto o mundo todo na palma da mão, o silêncio constrangedor do abandono prematuro! 
O inverno é longo e cinzento cansa - me. Desconheço por vezes o caminho da luz. Entrego - me à nostalgia no planar das aves errantes. 
Há dias em que apenas desejaria ser voo e vento. 

São Gonçalves.
Na ponta dos dedos, todo o silêncio e toda a músicalidade soprada num gesto único, sedutor,mágico, desesperadamente sedutor.
O rasgo de um sentimento inebriante, espalhado no espaço, no tempo.
O rosto escondido por uma nuvem de fumo, o sentimento de desespero no arfar dos dedos.
A noite ali tão próxima, profunda e enigmática.
Atiras para o tempo todo o sentimento e todo o desprezo do mundo, nesse teu gesto sempre tão silencioso, sempre tão teu. Como se o quisesses possuir e ao mesmo tempo desapegar-te.
E desapego era a única palavra que soletravas quando olhavas para mim.
São Gonçalves.
Das longas tardes ,guardo a memória do infinito
o aroma do mar colado ao corpo
a pequenez do meu corpo frágil,espraiando-se na maresia!

Das longas ausências,guardo a memória do tempo
num gesto cinzento e duradouro, a emensidão do silêncio
banhando os meus passos mudos!

São Gonçalves.
Devolve-me a lucidez dos dias,
a coragem que falta para derrubar as paredes do desencanto.O mistério do mundo, a transformação do sonho em quimeras ausentes, respiro o ar, a cor do céu em golfadas de melancolia e tristeza, sinto o passar do tempo, sem pressa sem piedade.O desafio do destino traçado na cor das minhas vestes,no interior do meu corpo. Atravesso o desassossego dos dias, as manhãs cinzentas de desencanto. Lá fora os meus filhos clamam por novo mundo. Mas eu já não os conheço, nem reconheço o som das suas palavras,Há muito me impuseram esta clausura, este cinza mascarado de luz, há muito que desisti de ouvir o cantar dos pássaros, apenas tu me visitas de tempos a tempos e me trazes a
cor do mar.

São Gonçalves.