segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Fechou o livro devagar, ainda a mastigar as palavras que teimosamente se instalaram no pensamento.
No fundo ela já sabia que a sua amiga escrevia muito bem, a sua prosa era sempre temperada com um subtil quanto baste de lirismo, de sensualidade, de magia!
Mas escrever assim daquela maneira tão profunda a condição humana, deixo-a sem palavras.
Eram amigas há muitos anos, tinham aprendido a amar e a percorrer o caminho das palavras, sentiram-lhe a força, a a magia, o encantamento, sentiram-se renascer num mundo de alegorias, metáforas, imagens, a verdade escondida nas subtilidades de um poema. Tinham seguido cada uma o seu caminho, afastaram-se, os destinos eram diferentes e os rumos também, mas haviam valores humanos que as aproximavam, a amizade, a lealdade, a responsabilidade.
Contudo se agora estavam mais distantes, acompanhavam-se sempre nos seus percursos, nas suas vitórias e nas suas derrotas.
Sentada na cama, já tarde na noite, com o livro nas mãos, Maria pensava na sua amiga, e no livro que acabava de ler. Tão deliciosamente belo, tão profundo, tão intenso. Tão dolorosamente verdadeiro…
Todos aqueles valores que ambas defendiam estavam ali narrados naquele romance, na profundidade daquelas personagens, nos encontros, nos desencontros, na luta por dias mais luminosos, na fraternidade, na entrega, na conjugação dos astros para que as almas se encontrem, morram e renasçam nas encruzilhadas do destino.
Maria estava feliz, por ter encontrado naquele livro o espelho de uma alma bela, mas também por ter encontrado num tempo de lutas, ambições e egoísmos, a chave para a libertação das amarras da alma humana.
O altruísmo….E foi pela mão e pela imaginação da sua amiga que as portas se abriram mais uma vez.

São Gonçalves

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