quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Nada lhe fora dado sem apelo, sem esforço, a luta desenhava-se todos os dias nos contornos do caminho, por vezes chovia no seu corpo, vestia o desencanto, como quem veste uma roupa cinzenta e já desbotada pelo tempo.
Olhava nos olhos dos homens inchados de orgulho, o despeito de se sentirem superiores, pressentia-lhes o medo nas veias raiadas de vermelho, o desconforto dos medos que escondiam.
Partiu um dia, de coração magoado, deixou para trás os jarros debaixo da janela, o cheiro a feno, o odor do café de cevada fervido numa panela de ferro ao raiar da manhã.
Deixou o amor escondido nas vielas, o toque das mãos, o doce beijo crepuscular, deixou para trás o preconceito dos homens.
Correu, correu para longe, para um mundo desconhecido onde haveria continua a luta sem fim
Guardava no coração, o toque suave das mãos enrugadas da mãe, o sabor das lagrimas de quando lhe beijou o rosto triste e cansado.
Guardou na mala o preconceito dos homens e o seu orgulho inchado nos sorrisos enganosos.
Inquieta percorreu caminhos sinuosos, as palavras a enfeitarem os passos, a iluminar as manhãs cinzentas de neblina, tantas vezes as suas mãos se humedeciam com o sal das lagrimas, tantas vezes desejou voltar, tantas vezes os braços cairam vencidos da luta.
Nas suas mãos os livros, a esperança, e a verdade que tanto desejou alcançar…
Deixou passar os anos, deixou o rosto ganhar aquela textura de quem já tinha visto passar tantas estações. O Esforço continuava, o caminho não tinha ficado desimpedido dos escolhos, mas a sua verdade, permanecia guardada no coração, num lugar inacessível ao preconceito dos homens.
Tinha-se esquecido do seu lugar de pertença, mas nunca se esqueceu porquê partira…

São Gonçalves.

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