domingo, 22 de novembro de 2020


 De que resta do tempo nas linhas marcadas do rosto

nesse caudal de dores invisíveis
tão vincadas
dessa amargura intemporal
nascida de um ventre
tantas vezes violado
com força
sem medo nem preconceito.

De que resta do tempo em que as hemorragias
eram caudais vivos a jorrar do teu corpo
na violência da idade
apenas travadas na fecundação da vida.

De que resta desses homens que carregaste no ventre e no colo, desses seres que te roubaram as noites
a calma dos dias, o sossego do corpo, o desassossego da vida!

Esses honens que te vendem, que te batem, que te exploram
Usando poderes indizíveis,protegidos por culturas seculares
esquecendo o calor do ventre, a doce ternura do teu colo.

De que resta de ti mulher, de mim, da nossa condição
desta força emanada das mais profundas crenças, da profundeza do sagrado
da matriarca do mundo...

Resta apenas o silêncio e a incompreensão
a dor e a revolta dos dias da desumanização!

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