sábado, 17 de julho de 2021
Encontro- me entre o silêncio e a palavra. A faca que corta a urdidura dos dias.Faço e desfaço a manta de retalhos. Evoco os arquétipos femininos, deusas ancestrais a conduzir os gestos das mãos.
Estamos no fim da tarde, no fim dos dias, no fim da vida.
É inverno e as noites são longas. O exílio a pesar nos gestos, na semântica da ausência. Ah, Penélope ! Porque nos deixaste como herança a agulha da saudade e o tecer da espera?
Lembro- me das mulheres da minha infância. Tão frágeis ! Tão submissas ao mundo dos homens.
Terei aprendido com elas os rituais do silêncio?
A voz calada, o gesto repetitivo!
O colo que acolhe, os braços que embalam! As mãos que amassam o fermento das ausências. O corpo debruçado sobre tear, a tecer o fio da esperança.
Nas minhas mãos de mulher madura, o molde das palavras, o novelo desfeito das promessas.
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