domingo, 5 de março de 2023


 Nasceu numa madrugada de inverno, rasgou o ventre como quem rasga um pedaço de terra endurecida pelas geadas. Não houve nem gritos, nem mulheres a correr pela casa. Apenas silêncio, o silêncio das mulheres que se transfiguram no tempo da gestação. Mulheres a formar o círculo da maternidade silenciosa. Até os homens estavam ausentes. Premonição do devir.

Seriam sós!
Ela e a mãe, a árvore e a terra!
A ganhar raízes, a expandir-se em profundidade, sombra e luz.
Tinha tanta sede de absoluto!
Tanta fome de plenitude.
Ah! Como compreendia Persofone! Essa deusa que dividia as estações entre a escuridão e a claridade. Entre as entranhas da terra e a luminosidade do sol.

São Gonçalves 

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