segunda-feira, 18 de setembro de 2023


 (...) vivo numa eterna procura de uma verdade da qual não sei se existe. Vivo de fortes intuições, de reflexos de vida, de imagens desfocadas, de sentires intensos, de memórias, de sonhos. Sou, por vezes, o espelho das palavras, o som do silêncio, a voz das coisas que ninguém conhece. Passo pelos dias como um barco, navegando em águas, ora mansas, ora agitadas. Carrego memórias e pedras. E sons da terra. Trago a saudade costurada nas vestes e na melodia de um canto antigo que se solta, por vezes, da minha boca.

E sou, também, essa implacável vontade de seguir, enfrentando todas as derrotas, todas as tempestades.
Não sei se sou capaz de ser o que esperam de mim. Não sei se espero alguma coisa dos outros. Vivo com essa força incontrolável que nos habita e nos, deferência. "Amor". Com toda a força e com toda a fragilidade que este sentimento nos proporciona. Perco-me, muitas vezes, nos defeitos e nas virtudes. Na rigidez e na razão do pensamento.
O que somos, varia muito no olhar de quem nos vê do outro lado do espelho, de quem nos ouve, de quem nos sente. O que somos, varia no olhar de quem nos conhece, na superficialidade e nas coisas profundas. Na fraqueza e na força. Na conviabilidade dos dias negros e dos dias luminosos.
Não sou deste tempo. Reconheço a velha imagem que alguém traçou. Noutro século. Noutro espaço. O meu corpo, não é este corpo que todos veem, a minha alma é uma alma antiga. Traz a sabedoria da ancestralidade da terra, das deusas de uma civilização perdida. (...)

São Gonçalves

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