domingo, 27 de outubro de 2013

Podia esperar tudo
as palavras que já não ouvia
o silencio das aves rasgando os céus
o barulhar das ondas no embate de uma falésia
distante
distante o medo 
e a magia silenciosa dos ventos
a caricia da luz na folhagem
intenso este silencio maduro
impregnado nas frinchas da janela.

Aguardo o momento da verdade
do confronto do tempo
na passagem das horas
o abraço quente do sol.

São Gonçalves
Foto-Xana Duarte.

Olhando no reverso da imagem
ângulos do rosto enaltecendo traços escondidos
a ânsia da espera ,do abraço desejado
a cortesia de um olhar
o teu que se esconde do outro lado
e a minha vontade de
quebrar o espelho com o olhar
a sentar-me no teu colo
quente,imenso
proteger-me do mundo
que me agride em silencio.

A espera do momento certo
em que me abres a porta
e o abraço acontece.

São Gonçalves.
Desenham-se palavras negras no branco imaculado da pagina de papel
transformam-se silêncios em sons da alma ,tantas vezes guardados durante séculos;
anuncia-se a eterna viagem da vida rumo a terra longínquas.
No silencio das madrugadas as aves migratórias levam consigo
as histórias e as memorias,os sons do rio correndo na direcção ao mar
o riso inocente da criança.
Os espasmos de dor ,o amor que desabrocha nos desertos incolores e escaldantes.
E elas as aves,abraçam os céus,e voltam sempre à nascente
na impiedosa passagem do tempo.
Gravam com as suas frágeis asas as rotas de retorno
no bico carregam a sabedoria do mundo.
Chegam sempre na primavera,onde mais uma vez se renovam
nos ninhos de uma nova vida a vibrar.
Conhecem de cor as lendas e os mitos da terra
e num único cântico anunciam -lhe o silêncio das horas de solidão.
e na derradeira viagem amarão como nunca todas as rotas
as da nascente e as do poente
e num segundo sem timidez
ecoará nos céus,o silencioso cântico das aves migratórias.

São Gonçalves.
Foto-Sandra Kavas.

No restolho do verão
lágrimas de sal
cristalizam o olhar
contempla-se 
o brilho cristalino
a beleza eterna
que dão sentido
aos trilhos
de uma vida
às vezes
sem sentido...

Nos espaços vazios
a luz que precisa.

São Gonçalves.
É tão fácil ser silencio, 
difícil é mesmo ser palavra....

( São Gonçalves)

terça-feira, 22 de outubro de 2013



Atravessam-se os anos em complicidades interiores,a alma sujeita às mutações dos desejos,arrancam-se os silêncios da boca sempre calada.
E era por dentro que a vida se agitava num turbilhão imenso,
os sonhos,os desencantos,a vida e morte
corroíam-lhe as entranhas,sufocavam-na as vezes
Quando passava na rua,ninguém a via,era quase sempre um vulto silencioso
atravessando espaço.
Trazia dentro de si tantos mundos,tantos sonhos resguardados dos olhares indiscretos,calava-os,como calava as dores,como calava a fúria de viver ,essa que apenas se entrevia no olhar. Era preciso perscrutar bem fundo no silencioso verde dos seus olhos,para saber a cor dos seus dias e os sons das suas noites.
As vezes temia as horas,a inconstacia dos dias
o desencanto do mundo albarroava as manhãs de luz
que nasciam com ela todas as manhãs.
Estas eram agora as madrugadas mais difíceis,
era tão difícil o desapego
de si,dela ,dos outros
dos que partiram tão prematuramente que abriram sulcos
no seu coração vagabundo.
Agora neste pequeno espaço onde o tempo denunciava a escassez de esperança
onde as magoas revisitavam a casa sem avisar
ali marcara a hora da despedida
de todos as caricias ,de todas as palavras
que se tornaram impossíveis
nessa imperfeição que corrói o pensamento e o corpo.
Decidira ali naquele silencioso momento
de renascer cada dia mais forte
embalada na espessa nevoa dos dias de inverno
mas com luz firme no olhar
marcado com os sulcos do tempo.

São Gonçalves.
Nasce aos poucos no coração
uma ternura apaziguadora
as tempestades derramaram
sobre o corpo
caudais imensos de farpas
e nas manhãs
quando os ventos por fim
se decidiram
acalmar as rajadas cortantes
no leito do rio
repousa agora no tempo
um orvalho
de lembranças
acariciando o rosto
e a memória.

São Gonçalves.
Tela- Maria Helena Cardoso

Ainda agarrada às sombras do muros
choras as derradeiras lágrimas do desencanto
a transparencia dos sentidos alojam-se nas esquinas
os pássaros cantam a sinfonia do ultimo adeus.

Despes as ultimas vestes já gastas
arrumas a casa dos cheiros
das memórias,entras a medo no inverno
que te espera.

No cantos da casa esperam esquecidas
os pilares da tua presença.

Eram brancas as paredes
eram rubros os desejos enlaçando o corpo.
Eu contemplo as marcas da tua presença
vejo olhares de melancolia
a dor de viver salpicada
aqui e ali.

Sei que te digo adeus a cada dia que passa
sei que não encontro mais palavras
para o meu sentimento de abandono
Sei que me agarro ainda
a essa trasparencia de sombras
e ao sabor das lágrimas
que ainda
jorram dos meus olhos.

sei que me habitas em sonhos
e no silencioso cântico
das aves da manhã.

São Gonçalves.
De que vale saber o significado de mil coisas
se é na infinita partícula de nós 
que o sentimento se instala,e traz aquela plenitude ansiada.

De que serve navegar em barcos de grande porte
se é nas pequenas embarcações que descansamos a alma.

De que serve correr por caminhos atapetados de flores exóticas
se é nos odores das flores silvestres que encontramos a calma.

De que serve?

De que serve rasgar o corpo com finas laminas de angustia
de que serve a cor do mar e do céu?
De que serve este vazio de tudo,vazio das coisa que não fazem falta
vazio de sons que ensurdecem o caminho?

De que serve ganhar
de que serve perder?


Apenas serve este sentimento inequivoco de Ser
um pouco de tudo,e muito de nada.


São Gonçalves.
Milagre é existirmos, tudo o resto são possibilidades...Jc Jc Patrão


...e quando a existência é com céu azul e cores sobrevoando o espaço as possibilidades multiplicam-se...

São Gonçalves
Foto-Freddy Gaurier

Caminho sobre pedras,apalpo o chão a medo,há abismo eminentes a cada esquina, a beleza da paisagem levanta me olhar, e mesmo assim,os passos são ainda inseguros.

A vida nas mais diversas formas. 

São Gonçalves.
Adentra-se a noite no peito,a sombra da sagaz memória
a pele colada à alma,tão tua,tão minha.
O desejo (in)contido na maciez da epiderme
a chuva estrelar beijando o rosto.

Dizia-te perdida na noite
quando silenciosa albergavas estranhas melancolias
dizia-te sedenta de vida ,furacão rasgando a noite...

estrela cadente anunciando os trilhos da luz.

São Gonçalves.

domingo, 20 de outubro de 2013

Foto-Ana Souto Matos.

" não deixes o tempo fugir entre os dedos... abre as mãos e deixa que os pássaros chilreiem... "
Ana Souto Matos.

Do tempo que vai do tempo que vem
como uma canção de embalar
traduzo em palavras os medos
a ânsia de viver,a ânsia de amar

as mãos que afagam as eternas conquistas
o rosto das horas,a inocência dos dias
a magia de encontrar nelas a voz
os sons do mundo

a capacidade rara de soletrar a invisibilidade
a ternura doce das aves.

Abro as mãos e aconchego nelas as memórias
as mesma que me ensinaste a afagar
lembras-te ?
Não deixes as memórias fugir
aconchegas-as no teu coração

e eu repeti esta frase vezes sem conta
como se no aconchego
os pássaros feridos,cantassem uma melodia
inesquecivel .

São Gonçalves.
Não vou deixar o tempo fugir nos intervalos dos meus dedos,
a ternura esquecer-se na penumbra do fim de tarde
quando a noite se adentra no meu corpo exausto.
A sede das ausências cortam a pele 
rasgos feitos numa fineza invisível e cruel.
Não me quero cingir a esta imensidão de temores
albergados no fundo do olhar.
As ruas repletas de gente apressada
lembram-me as imensas obrigações diárias.
Mas eu gosto das horas tardias
onde o sossego da noite se instala
nas vielas do meu corpo.
Rasgos de noite,rasgos de luz estrelares
iluminando o meu olhar entristecido dos dias.
Entrego-me liberta a esta nostalgia fina
que que encontro na melodia temporal.
Aconchego os desejos da espera
num só sorriso redentor...

abraço-te enfim..e renasço.

São Gonçalves.
Tela-Edite Melo

De que sonhos me falas no silêncio da noite
de que terra me segredas nesse timbre feminino.
de que réstia,de que luz...

De que magoa escondes no peito
e teimas em me querer dizer
de que vida,de que morte...

De que espaço te perdes
de que estrela do amanhecer te encontras
de que astros ,de que galáxias...

De que corpo te vestes
quando te desfazes em cinza
na tua alma de mulher...

São Gonçalves.
Tela- Edite Melo.

Trazes-me agora a inconfundível cor que brilha no teu rosto.
Trazes-me tons de esperança alagando o espaço ainda sombrio
Ainda me inquieto no coração da noite,o sono agita-se entre a recordação e o medo,vagueio sonolenta por espaços à muito esquecidos no canto da casa.
As vezes chegas de mansinho,como quando eu era criança e vigiavas o meu sono,ainda chegas assim agora ,nestas minhas noites agitadas.
Sinto-te presença viva nas pequenas coisas que toco,sinto-te figura imóvel deste meu refugio.
Podia afirmar que nunca visitas-te a casa como agora,que te vejo mais bela ,mais feliz nas imagens que povoam os meus sonhos.
Trazes-me o divagar das auroras,as mãos carregadas de aromas silvestres,a ternura dissipada em imagens inconfundíveis .
Recordo-ta ao acordar,penso no que querias dizer e sei que continuas em mim ,na brisa colorida que rasga o céu ,mesmo aquela que anuncia tempestades.

São Gonçalves.
Tela-Edite Melo.

Revivo os momentos em que sozinha percorri caminhos sombrios,e reconheço neles a metamorfose necessária para continuar a caminhada.Dispo-me do negro que teimosamente vestia o meu corpo,e liberto me do fardo desse luto que nunca quis.Luto,palavra pesada de quem carrega uma dor incurável,e eu curei-me de ti. Não que seja pela tua ausência,mas por te saber hoje mais perto de mim do que ontem.
Recomeço agora aliviar-me desse peso,dessa angustia,desse vazio que nunca o foi,Não quero no meu corpo este luto,não o sinto,não o visto.
Nestes caminhos que percorro,vejo agora pequenas luzinhas que iluminam aos poucos os carreiro da alma,pequenas brechas iluminando as sombras,vaga-lumes sobrevoando as margens de um rio que de repente se escondeu do mundo.
Rasgo as manhãs onde desembocam aos poucos os barcos da esperança,de rosto molhado pelo orvalho da madrugada fria,traspareço na neblina ainda febril e tremula,mas resisto,resisto à dor,resisto ao vazio.
Acordo na cidade branda,enalteço a tempestade das horas amargas,teria naufragado se não me agarrasse à doce lembrança do teu abraço...
Sei-te agora mais perto de mim do que nunca,sei-te nas pequenas coisas que me acalmam,nas doces lembranças,sei-te na gargalhada que solto sem querer,sei-te nesta minha vontade de continuar.
Sei-te parte de mim nesta cidade perdida algures,repleta de vaga-lumes luminosos e silenciosos.

São Gonçalves.
Desce sobre mim uma ternura longa
quando te sinto nas sombras do sol
Vou sendo nesta terna melancolia
quando te lembro
nas palavras que nunca 
quises-te ouvir.

São Gonçalves

sábado, 12 de outubro de 2013

Foto-© Kevin Conor Keller

Longas as viagens na passagem das estações
a vida toda nas asas de uma ave migratória
idas e vindas,voltas e revoltas
no interior de ti
ou nas margens de um céu azul.

Cantas um cântico de palavras surdas
vozes antigas soletrando ao teu ouvido
sombras,murmúrios,gestos
peregrina do mundo insistes
a entender a musicalidade silente do voo.

onde andas memória resgatada
de onde partes nas manhãs de orvalho
lambendo restias de neblina
no rosto ?

Partes sempre na procura de novas primaveras
atravessas mares e serras
escutas as vozes dos homens
em dialectos que muitas vezes não entendes
e gostarias tanto de entender.

Amas o mundo ,os homens,a terra ,o espaço
as coisas antigas e as que haverão de chegar
lembras com nostalgia os amores que partiram cedo
e compões a saudade em melodias de palavras

Longas as viagens na passagem das estações
o grito no silencioso cântico de uma ave migratória!

São Gonçalves


" Ecos de silêncio"

Chegam de longe palavras mudas
o desencanto tatuado nas horas vazias
a nostalgia amarga dos sonhos
sem amanhã-----------amanhã acordo
sem a pressa dos dias em que me esqueço
amanhã cantarei ao vento
a efémera aventura das palavras
e ai gritarei aos elementos da natureza
todas as promessas-------todas as palavras
que ficaram agarradas ao céu da tua boca
nesse limbo de um eco silencioso.

São Gonçalves.
Foto-Ⓒ Maxwell Dupain.

Um dia quando encontrar de novo o teu olhar
a dor será apenas uma sombra esquecida no rosto.
arrastaremos memórias esquecidas no tempo
saberemos do que nos libertou na hora da redenção.
Já me esqueci de procura-te,já olho os dias sem temor
em todos eles ilumina-me a luz desse teu olhar longínquo.
Agarro-me aos pedaços de tudo o que ainda me restou de ti
as palavras inquietam-se nas pontas dos dedos
e elas não tem medo da tristeza onde por momentos se afundaram.
Não,não são tristes os meus poemas
nunca a luz que se pode entrever nos simbolos que escolhi
foi tão forte.
Nunca o poema foi tão intenso na efémera passagem das horas.
agarro-me à cor dos teus olhos,escrevo e reescrevo a vida
que nunca te souberam contar.
Eu canto o hino da tua tristeza infinita,que nunca perdes-te no teu olhar.

São Gonçalves.
Foto-Dascha Friédlová.

O outono chegou desta vez mais frio,mais escuro
a casa já não cheira a ti 
a mesa cheia nesse fim de tarde
os olhares silenciosos,as memorias servidas em travessas de medo.
Posei o olhar sobre os ombros de cada um
pareceu-me ver-te ali silenciosa a caminhar pela casa
as vozes incomodavam-me
sempre as vozes dos homens a confundir-se
a entranhar-se neste nosso dialogo surdo.
O Outono chegou e viu-te partir
e eu senti a casa esvaziar-se de tudo o que me deste
esvaziar-se do teu olhar quente e doce.

São Gonçalves.