domingo, 24 de agosto de 2014

Os dias alternam - se entre as sombras e a luz.
Entre o pesado espaço físico e a leveza do ser.
Entre a realidade que nos acanha os gestos e a miragem do sonho que nos seduz. 

São Gonçalves. .

Foto - Ana Souto DeMatos
É na filigrana dos dias que capto o sentido da luz. 

São Gonçalves. 

Foto - Ana Souto DeMatos
Não sei o que me cansa mais , se a arrogância dos homens, ou esta minha teimosia em acreditar em almas nobres .

São Gonçalves.
Tem dias que dava tudo para ouvir o silêncio desta casa. 
Cansam me os dias, os gritos dos homens perdidos na amálgama da cidade. 
Aqui seria eu e as minhas palavras silenciosas
Os livros esquecidos na prateleira
O gato velho dormindo a meus pés.
E a vigília rubra chamando as memórias.

Olha, sente o pulsar da vida escondida por detrás da janela fechada
E nas folhas de um livro
Por ali esquecido.

São Gonçalves. 
É uma sensação de leveza
Esta que se sente
Quando não vemos alguém há tantos anos
Quando não ouvimos a sua voz à tanto tempo
que pensávamos ter esquecido o timbre

É uma sensação de leveza tamanha
Sentir que as palavras nunca acabam
E que se en laçam
Como se nunca tivesse havido tempo
Nunca tivesse havido distância.

São Gonçalves
Podia mover- me na terra ,no mar , no céu, no espaço infinito do universo. Podia sentir no corpo o peso de tantas outras vidas, de tantas outras coisas, de tantas outras formas. 
Num eterno recomeço ligaria este meu corpo frágil à essencia da vida. Num desapego infindável à escuridão dos homens. 
Saberia que a finitude é uma palavra inexistente no vocabulário dos crentes. 
E se eu tivesse ainda a capacidade mágica de tocar com os meus dedos a cor deste céu, saberia que os meus mais secretos desejos, não passariam de memórias guardadas no imenso cofre milenar das memórias arcaicas.
Saberia da paz que me habita por vezes saberia deste sentimento de plenitude passageiro que me preenche e redime dos desencantos do mundo.
Contemplo este céu de um fim de tarde de um mês de Agosto, abraço o silêncio e com ele parto numa viagem de regresso ao essencial da minha presença no mundo.

São estas cores que designam a efemeridade do corpo terreno, é esta imensidão que me diz da minha pequenez.

São Gonçalves
Aos poucos vemo-los partir
E no assombro do silêncio
Sabemos
Que também nós
Envelhecemos. 

São Gonçalves.
A vida é feita de encontros e desencontros
De partidas e chegadas
De portas que se abrem
De portas que se fecham
De toques subtis
De duros golpes.

A vida é feita de muitas forças
De grandes fraquezas.
De caminhos de silêncio
De caminho de palavras.

São Gonçalves.
Do rio que mansamente desliza a meus pés, no abraço das águas ternas e cristalinas, desenho a paz nas asas de um colibri. 
Da serenidade das margens escrevo uma nova canção. 

Podia falar de mim, ou de nós
Podia falar do silêncio que permanece 
Em círculos de luz

Da melodia ecoam apenas ecos no singular reflexo das águas.

E esta subita paz que invade por instantes
Momentos únicos no espaço e no tempo do meu corpo.

São Gonçalves
No aconchego do meu mundo, re invento novas tonalidades com a força da palavra. 

Deixo fora do meu corpo cansado ,a tempestuosa passagem do tempo, registo no fundo da tela um sentimento profundo ,como aquele que sem querer me agarra à vida. 

No espaço em branco e cinza reescrevo a azul o dia de amanhã. 

São Gonçalves.
Foto Dascha Friedlova. 

Combate- se os dias, as noites
O desassossego do corpo
Estuda- se o desapego das coisas
E elas voltam...voltam sempre.!

Com outros nomes
Sob novas formas
Voltam!

E o coração cede ,grita
Re - inventa novos idiomas
Novas tonalidades
Afasta a agressividade
Das inomaveis in sensibilidades...

E continua, com ou sem fios de luz
Continua o caminho .

São Gonçalves
Acerto a leveza do corpo com a leveza do tempo. 
E da brisa do vento faço o abraço.

São Gonçalves.
Aprendi com os pássaros, a ternura do silêncio! !!

São Gonçalves.
Da nudez das aves nada conheço
Apenas me perco em deambulações de cor , num toque macio e leve. 
Sinto o arrepio da pele, dos meus dedos esquecidos, apenas me afaga a ausência dos teus. 

Da nudez das aves nada conheço
Apenas o toque do teu corpo macio no meu.

São Gonçalves.
Há quem traga o sorriso nas mãos e o sol na alma.
Há quem encurta distâncias com palavras.
Há quem seja sempre a memória da ternura. 

São Gonçalves.
Por muito que os passos sejam árduos e os dias dolorosos, o caminho das palavras continua a ser um bálsamo e um aconchego de sol e de luz. 

São Gonçalves
Afundas-te no coração do azul
Na melancolia com que alimentas as palavras
Na imensidão de um gesto resguardando os temores. 
Vejo-te na serenidade de um silêncio 
Escondendo as brumas que te cingem o olhar. ...

São Gonçalves.
Silenciam-se as palavras com gestos simples
ramificam-se os silencios
a procura é agora um ponto de encontro
entre o vazio e o conhecimento.

Trago mil vozes rasgando as noites
será preciso ainda descodificar o sentido perfeito!

São Gonçalves.
Não sei de nenhum caminho onde os passos não tropeçam nos escolhos dos dias. 
Mas sei dos dias que ultrapassam obstáculos de pedra. 

São Gonçalves.
Foto-Christina Veiga.

De olhos fechados,um mundo inteiro em construção
o vazio voluntário das coisas inúteis
a luz do sagrado reflectindo os pontos essenciais
Esquecendo a amalgama dos sentimentos imensos...
Vazio..vazio das dores e das imensas inglorias
como uma caixa onde já na resta
dos infinitos pertences acumulados
na passagem dos dias ,debaixo do sol.
De olhos fechados,um mundo inteiro em Construção
a plenitude abraçando o recomeço de tudo!


São Gonçalves.
Às vezes cansamos de tudo. ..até de nós próprios. 
Às vezes também cansamos do ruído do silêncio. ..outras...do silêncio das palavras. 
Às vezes é precioso o vazio dos dias intensos. 

São Gonçalves
De tudo ,importa o único detalhe que reteve o momento. 
A flor não deixa de embelezar o espaço ,mesmo que tenha sido manipulada.

São Gonçalves

domingo, 10 de agosto de 2014

Desfocado o olhar 
na continuação dos dias
Inventam-se horas
esquece-se a nostalgia das palavras
uma luz que desvenda misterios!

São Gonçalves.
Abri a janela e semeei ao vento palavras de esperança.
Deitei fora os cansaços,as nostalgias silenciosas
Dobrei os dias em pedaços ,desfolhei as pétalas
cairam silenciosas sobre as tabuas envelhecidas
e renasceram nelas a solitária magia dos dias plenos.

São Gonçalves.
De olhar ausente se abraça o mundo
De corpo solto se oferece ternura.
De dias cinzentos se afaga as ausências. 
De amizade se pintam os dias. 

São Gonçalves.
Porque às vezes as palavras também se colhem com espinhos pontiagudos. 
Porque às vezes só os silêncios aromatizam as páginas virgens de um caderno ainda em branco. 
Porque às vezes ....

São Gonçalves.
Não sei se é sonho ou vontade de esquecer a realidade. ..
Talvez seja uma forma de meditação percorrer os campos de trigo da infância. 
Talvez seja a vontade de libertação. 

São Gonçalves.
Deixo o cansaço à porta,o cinzento do tempo espreitar a janela.
Deixo a vida correr mansamente no meu corpo,
e retomo a viagem do azul,no colo de uma flor campestre.

São Gonçalves,
Do magma quente a imersão das forças telúricas com que acalmo o cansaço do corpo. 
Numa posição de oração agradeço à deusa a força e a energia por vezes transcendente com que atravesso os dias. 
São Gonçalves.
O que resta do cansaço dos dias sem fim?
Resta o sentimento de ter deixado a ternura cair aos pedaços num chão árido de silêncios codificados. 
Resta o perfume das rosas silvestres ,secado atrás dos passos. 
Resta o que somos bebido em ânforas de licor amargo e doce. 

São Gonçalves.

domingo, 3 de agosto de 2014

Quando da nudez da inocência
o silencio se apropriar
do toque suave da crisalida
e a luz do dia clarear
o corpo envolto em doçura
campestre.

Quando acordares as palavras no peito
não compliques o sentido
aceita o desígnio das Deusas
que de mansinho tocarão
a imensidão dos sentidos.

Quando despertares enfim do sonho da infância
guarda no coração o suave toque da inocência
a suavidade mesclada nas cores de uma borboleta.

São Gonçalves
Há silêncios que significam todos os mistérios da neblina matinal. .
Há abraços que se fundem na distância e se sentem nos contornos de uma silhueta transparente. 

São Gonçalves.
Escrever permitiu-me olhar com menos deslumbramento a minha luz interior e aceitar com mais serenidade as sombras que ofuscam o caminho.
São Gonçalves
Atravessam-se desertos de terra batida
Os sinos silenciaram as trindades
O corpo erguido ainda se deslumbra com as sombras das giestas. 
O caminho já não é o mesmo
Já tudo me afasta da nascente. 
Resta - me a solitária sombra da memória das camélias .

São Gonçalves.
Silencio os gestos num abraço côncavo no meu corpo, e desenho a lápis azul os contornos da ternura. 
Podia falar te das angústias que me
assaltam o coração ,nos dias de azáfama constante.
Das inquietudes das horas ,deixo-as cair na penumbra da noite, a cidade impiedosa aconchega - as no seu seio de rotinas imensas. 
Agora ,apenas me basta este tempo de silêncio azul com que aconchego a noite. 

São Gonçalves.
Devolve me o silêncio das horas nostálgicas, devolve me a carícia e o beijo .
Infinito o desejo de se tornar apenas num sedutor traco de luz e sentir o aroma de uma flor campestre. 

Infinito o desejo de se fundir no silêncio das auroras sem ter que ser um infindável segredo de múltiplas estorias.

São Gonçalves