O silencioso canto das aves migratórias

O silencioso canto das aves migratórias

sábado, 23 de março de 2013

Muitas vezes não conseguimos olhar a dor e fragilidade no olhar dos outros.

Afastamo-nos para não ver as nossas próprias fragilidades.


São gonçalves.
Pintava no rosto a vida em metáforas profundas;a cor alaranjada dos dias , a vivacidade reinventada na pele.

no olhar sereno confundia-se no mundo,era artista num circo de habilidades absurdas.

e era no fundo de si mesma a arte conjugada com a vida.


São Gonçalves.
Do lado de fora ,talvez num olhar desatento,evindenciava traços de altivez e distanciamento,mas poucos sabiam ,das vidas que trazia decalcadas na epiderme,onde apenas pequenos traços ainda eram visíveis.

Do lado de dentro guardava um mund...o de imensos horizontes,a ternura das horas mansas,a capacidade de se distanciar das coisas inúteis e vagas.

Era no tempo presente o olhar distante dos que nada sabiam ....Era um mundo dentro de tantos mundos na distancia de um olhar cúmplice.



São Gonçalves.
Havia momentos em que se esquecia de tudo.E confundia-se na fragilidade das horas

na alquimia do tempo sem nome.

Não haveria dor que marcasse o coração ,nem amargura que ferisse alma.

... Havia dias em que se fechava ao mundo,para que o mundo não entrasse nela.

Havia dias em que de olhos fechados enfrentava o vazio das palavras.


São Gonçalves.
Desenhavas o teu nome.

Trazia-te assim colado ao peito
nas noites d’inverno, aquecendo
os corpos o teu e o meu.
Deitávamo-nos na sombra do medo
... na inaudível tempestade dos corpos
em chamas de paixão.

Desenhavas o teu nome nos meus lábios
e eu soletrava poemas
escritos no suor da pele verde e ardente.

Trazia-te assim na lembrança,nas noites
de eróticos desejos a florescer nas madrugadas.
e eu escrevia nas areias,de uma praia deserta
os mais belos murmurios, agora levados
pelo vento,o cantico audaz de uma fantasia de amor.

 São Gonçalves
Nem sempre os vazios são das saudades do que houve,muitas vezes~,vazios são tambem a falta do abraço,a falta da palavra ,a falta do suporte afetivo.
Hoje lembrei-me de ti,não tanto pelo que houve,mas mais pelo que não aconteceu...

São Gonçalves

segunda-feira, 18 de março de 2013

Gotas de ternura

espalham-se na chuva

inquieta das manhãs.

... E a amizade solta-se

na pureza cristalina

de uma frágil

mão partilhada.



São Gonçalves

Foto-Antonio Santos Silva.

Ás vezes perdia-se do mundo ao redor

e ensaiava uma viagem solitária

... no meio do nada.

A vida era agora um momento

um momento em suspenso

o breve instante em que agradavelmente

abraçava o rio sereno e calmo.

Ás vezes no coração do nada

guardava a riqueza das horas silenciosas

porque o silêncio também preenche uma vida.

Não tardaria a ser de novo

um barco carregando os sonhos do mundo

por agora ,apenas queria

o silêncio das horas vagas

e a ternura do beijo que lhe soprava

a brisa vinda do mar.

Calmas eram as águas

na maciez de um fim de tarde.


São Gonçalves.

Porque havia de olhar sempre a frincha de luz,esperava.

Esperava a doce caricia do sol do outro lado da janela,

semi desperta,semi descoberta,esquecia as sombras da noite

... e o cântico dos abutres que rondavam a silhueta da casa.


Ninguém haveria de conhecer na profundidade os seus silêncios

embora deslumbrassem uma ponta de conhecimento nas suas palavras.


São Gonçalves.

A metamorfose da alma acontece sempre no maior lugar de abandono.


São Gonçalves

Podia ser por vezes a marca da dor num rosto ausente de luz

mas era muitas vezes o olhar brilhante ,escondendo a árdua

tarefa de ser mulher.

... Podia ser também uma mascara escondendo o mundo infinito

que guardava na sombra das penas.


São Gonçalves.

Não são de vazios cinzentos os lugares da alma

a vida envolta em espaços de vácuo

... e o cansaço dos dias esquecido nas esquinas obliquas.


A vida respira o incenso da palavra

a emoção é agora um abraço

e a nova descoberta trás de volta

reminiscencias de um arco-íris antigo

a ausência do peso anda agora

envolto em véus de cores.


A Poesia veste o corpo de pinceladas

rasgos sentidos e abstractos

a borboleta inicia o seu primeiro voo

não é vão a metamorfose

da primavera.


De palavras desenhadas se faz um poema

da mão de um pintor a poesia enlaçada

gravitam metáforas na essência

das linhas reinventadas

a cor da poesia..

São Gonçalves

quarta-feira, 13 de março de 2013

Num leito de palavras descansava da luta diária

haveriam de ser a sua amiga,confidente

a poesia derramada nas lágrimas silenciosas

... que derramava na ponta dos dedos.


Haveria de escrever e reescrever a vida

num cântico de luz e de sombras

onde a alma se descobria

disfarçada em palavras soltas e vagas.


São Gonçalves.
Trazia tatuado na pele desejos de primavera

cores suaves perfumadas de sentires doçes.

... E o tempo haveria de lhe mostrar uma nova luz

nos traços do seu rosto iluminado.


São Gonçalves.
Não era só de dias e de noites que desenhava nos cantos da eterna caminhada.

Eram de estações que se sobrepunham nas camadas da pele,de dores alheias ,

de silêncios continuos e desesperados,onde as palavras ,não significavam os

... gestos de carinho que esperava.

Caminhava,sempre na perfeita sintonia com o tempo que lhe era dado viver.

Talvez soubesse que nada fora em vão,que as dores,as suas e as dos outros,seriam sempre

a força inspiradora da sua paixão.

Caminhava um caminho de trilhos ousados,umas vezes conhecia-lhes os desígnios ,outra vezes ignorava os porquês.

Caminhar com a pele desnuda,ou camuflada não era agora uma prioridade.

a prioridade era saber que na soma das presenças e das ausências,das palavras e dos silêncios,das alegrias e das tristezas,na soma das estações o interior

guardava a coragem dos dias sem fim.


São Gonçalves

Cada dificuldade é um desafio à força de acreditar que somos capazes de subir os degraus da vida ,e acreditar que tudo valeu a pena ser vivido,e que de cada vez nos tornamos mais fortes.

São Gonçalves

Ser mulher é ter o corpo agarrado à terra e e a vontade bradando coragem aos céus.


São Gonçalves.

Aprendera a silenciar os fragmentos da incompreensão, a ajustar os cálculos de todos os momentos.

Não bastaria fechar os olhos para sentir,seria preciso abdicar do mundo ao redor

... e sentir-se apenas unificada com o profundo sentimento de aceitação.


Não seria de todo um desejo fragmentado nos muros do tempo,seria ,ainda que com dor,a serenidade das coisas inexplicaveis.


São Gonçalves.
Certamente será uma benção encontrar a serenidade no seio da montanha silenciosa e calma,todavia parece-me que o maior desafio será encontrá-la e faze-la durar , no coração da selva que é a vida de todos os dias.
São Gonçalves.

Deserto a cor de uma viagem.


Poderia percorrer mundos existentes em caminhos tatuados no meu rosto
...
e reconstruir cidades eternas nas ruas palmilhadas nas ruas da minha pele nua

e pintar as imensas ternuras com que um dia me vesti.

Poderia desenhar os contornos de uma viagem,única,inesquecivel

nas esquinas dos medos ,e a feroz vontade de vencer,

a coragem de me unificar ao eterno destino com que perseguia

as quimeras ausentes e avassaladoras dos sonhos.

E eram de mundo e de sonhos,de trevas e de luzes as vâs lembranças

os duros acoites do vento,as pedras escuras frias ,os cipestres que

teimosamente resistiam ao vento agreste e constante passagem do tempo.

E era de mundos silentes e frios,fragmentos austeros das lembranças compartilhadas

na alma e na carne.

E de tudo isto ainda tivesse essa imensa nostalgia das manhãs

e desenhasse nos pequenos abismos a cor de um deserto

percorrido na solidão das madrugadas.


São Gonçalves.

domingo, 3 de março de 2013

Guardava os sonhos dentro de uma pequena sacola.

para pintar estrelas nas noites mais escuras...


e das pontas dos dedos renasciam pequenos sois
...
iluminando o caminho.


São gonçalves

E porque ela compreendeu que todos os gestos seriam julgados,

todas as palavras,todos silêncios,

e porque de tudo isto, ela compreendeu

... que o seu mundo imaginario e criativo

teria de ser protegido num oásis,

onde só a alma habitava

,apenas o corpo ,

as mãos e a luta diária

se aventuravam no deserto dos dias.


e mesmo assim seria julgada.


São Gonçalves

Passeava-se pelo tempo num compasso lento e determinado.

Quando o inverno insistia em roubar-lhe o sol,juntava as pétalas

e pesava-as nos dias dividindo alguns raios de luz.

...
No coração ainda brilhavam raios de luz,restias da ultima primavera.


São Gonçalves.

Esquecia-se das palavras a um canto da casa

e no parapeito da janela guardava o perfume do ultimo poema

sorvido em taças coloridas e aromas quentes de canela e jasmim,
...
enquanto a noite lá fora a embalava no sono.


São Gonçalves

Haveria de rasgar os céus na clara luz da manhã

cortando os ventos gélidos que sopravam do norte

e cantar cantico agudo no ouvido da desventura
...
seria a raiva ,a dor soltando-se do corpo

como se esvai a vida na sonambula amargura

de um pássaro ferido.



Haveria de contar as horas de eterna procura

as tempestades abrutas agitando o coração

do rio desgovernado e descer,descer bem fundo

as profundezas da alma ,esquecendo o corpo

como se esquece a infância nas horas sombrias

de uma vida perdida.



Haveria de esquecer os dogmas de fé

caminhos juncados na memoria da infância

não seriam os deuses que semeariam

no seu coração o desencanto

mas os homens ajoelhados em preces

soltando da boca palavras ocas

julgando os outros sem saber

das origens profundas das coisas.



Haveria de silenciar o mundo ao redor

de gritar no silencioso templo em que rezava

o seu modo,o seu hino,a sua busca



Haveria de gritar ao mundo

LIBERDADE.


São Gonçalves.
é preciso saber alimentar o interior da terra...mesmo que o alcantrão negro queira silenciar o brilho e a força interior....

São Gonçalves.

Silencios são muitas vezes véus que nos protegem do mundo,de nós e dos outros.

São Gonçalves.

Por muito que se pense que sabemos a verdade do silêncio dos outros,nunca o conseguimos imaginar,porque muitas vezes o silêcio está nos antipodas de tudo que possamos imaginar....

São Gonçalves.

Podia acabar o mundo ali a seus pés

e continuar a sentir o pulsar das horas

... no vasto território adormecido

e continuava no fundo de si mesmo

a acreditar nas silenciosas horas

eternas armadilhas

confundindo o mundo...


E o mundo não desistia de si.

Todas as manhãs

o frio cortava o rosto

e dia amanhecia

as aves ensaiavam

novos voos por entre

a árvores despidas.


Teria o seu mundo desmoronado

num único momento de lucidez

Teriam as aves partido

numa derradeira viagem

confundindo as estações

e os anos ,a idade da razão

era agora um sóbrio

momento,guardado

na penumbra do coração.


Rasgavam-se esferas obliquas

paradigmas de um sentir confuso

e as sombras vagueavam

nem esquecimento interno.


O esquecimento do mundo

era agora um sombra vagueando

nas profundas sensações

de vazio.


São Gonçalves.
A esperança habita na minha alma

em todos os momentos

em todos os dias,todas as estações.
...
Pequenina por vezes,perdida

nas crateras da existência

enorme como o sol

nos dias de verão.


Imensa esta fragilidade invernal

que sobrevive à passagem

da aurora.

São Gonçalves.

Todos os dias há uma estrela que brilha no céu e que nos diz que a vida tem sempre sentido.
Mesmo que tudo há nossa volta se desmorone,mesmo que a vontade de baixar os braços seja maior do que a vontade de os levantar,mesmo que a esperança... esmoreça...os invernos continuem longos e impiedosos...mesmo que.......há sempre um acontecimento,uma palavra...um sorriso,uma voz que nos murmura ao ouvido....continua...

porque todos temos estrelinhas que nos iluminam os passos nos dias de maior desalento.

foto-Areti Kelermenou.

Encostado ao indizível silencio do vento

ao murmúrio acariciante da brisa

do mar calmo,descansava.

... As palavras esquecidas

escritas num postal antigo

a dor da saudade reprimida

na cor branca do muro.

e o azul do mar

sempre tão calmo e sereno

revisitado mil vezes

nas memorias longínquas

da infância.

Encostado ao incomensuravel

horizonte,

o livro espera as caricias

de um olhar atento

na límpida ternura silenciada

no coração das palavras.



São Gonçalves.
As vezes também somos um mundo

na silente vertigem do abandono.


... São Gonçalves.