O silencioso canto das aves migratórias

O silencioso canto das aves migratórias

domingo, 30 de dezembro de 2012

O que vos posso desejar para além de tudo o que se tem desejado.
Que o novo ano seja repleto de luz....de cor...que nos possamos encontrar por aqui,entre as palavras e os silêncios,a presença e a ausencia,e que nestes intervalos sejamos nós ,com tudo o que de melhor temos para oferecer uns aos outros.
A todos um bom ano
São Gonçalves

Esperei a hora certa para soltar ao vento as palavras.

Sim ,porque as palavras também são caprichosas,nem sempre estão ali à nossa espera na pontas dos dedos.

... E os dedos estão muitas vezes ásperos do frio dos
Invernos,como os galhos daquela árvore nua

que teimosamente se mantém firme,apesar das tempestades.

Esperei a hora certa,para contemplar o céu azul,de um dia claro,o olhar erguido,sem pestanejar.

E podia ficar ali horas,na quietude do espaço esquecida do tempo que passa

A vida é esta sucessão de imagens,entre o verão e o inverno,entre o fim e o recomeço.

Entre as noites e os dias,a solidão e o aconchego,um ano que termina,um outro que recomeça.

E no fundo tudo fica igual a si mesmo,só o nosso olhar muda.

E se durante todo este tempo conseguíssemos esquecer do frio,dos dedos ásperos,e soubéssemos apenas olhar o céu,

acariciar o rosto com a brisa do vento,com as sedas de esperança.

Para tudo há uma hora certa,até para ilustrar uma imagem.....

São Gonçalves.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Há uma serenidade inesperada em nada esperar uma maturidade acolhida nos gestos ,na aceitação da mutação constante das coisas.Nada pode mudar o percurso das águas,apenas nos resta contemplar a corrida do tempo nas sombras do corpo.

São Gonçalves.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Insegurança!


A espera condiciona os gestos

o corpo nu e calado...anseia
...
a alma vazia de vida...suspira

na mudez do espaço a angustia

o terrível silêncio do mundo

a coragem ausente...ausente...


Se pudesse saltaria da janela

se pudesse abraçaria os pássaros


O sonho perdido algures na estrada

a incapacidade de seguir em frente

de olhar o verde profundo

do olhar amante...do mundo

essa incapacidade de se levantar...


Se pudesse afastaria o medo

se pudesse pintaria de novo o céu.


São Gonçalves.

No caminho da descoberta instala-se o silêncio ,

o vazio,a cor da rocha íman transportador das energias do fundo da terra.

Onix a pedra ,a força das entranhas na natureza,resíduos de outras eras,

de outros mundos que acalma os temores,as angustias das noites.

As sombras e a luz num único elemento.
...
Enigmas dos antepassados,protetores da coisas terrenas..

Pudesse eu carregar na dureza da pedra escura que trago colada ao peito

toda a luz invisível que transparece no ângulo do olhar.

Pudesse eu levar-te a cor da esperança que se exaltam nas palavras.

nos pingos da chuva ,nesta nova era prestes a começar

Não saberia apenas dizer-te das sombras que a pedra afasta na sua capacidade única de protecção

Deveria dizer-te de toda a luz ,de toda a coragem ,da unidade ,do absoluto transcendental,

que transmitem as tuas palavras e que seria preciso aclamar.

Não deveríamos caminhar apenas na sombra

na ausência de mitos protetores.

E no crepúsculo da vida veríamos o paradoxo do tempo

a eterna dualidade do corpo e do espírito,da luz e da sombra.

Onix a pedra preciosa,o cristal do silêncio,o principio do vazio da alma.

Ágata preciosa que nos une neste mundo terreno,e onde as almas

se unificam muito além para lá da dimensão do mundo.

Atravesso os rios calmamente,onde as palavras ainda jorram de um fonte inesgotável

e onde eu tu somos a agua que faz correr os leitos de dimensões varias e transcendentais.

Deveríamos ser a luz constante transfigurada em palavras

enigmas seculares na força do sol ,magnetismos rochosos de um novo tempo

de um novo olhar.



São Gonçalves.


Parabéns Dolores,um beijo grande.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Trazer no olhar o mundo
a alma inteira em imagens
poder ver a cor e a luz
numa noite de escuridão
e ser muitas vezes a
a escuridão em dias
de grande claridade.
Ser um mundo dentro
de um outro mundo.
Não querer sentir no rosto
a imensidão do mar
as horas de um tempo
que não para de passar.
Os anos,os meses
a passagem vertiginosa
nas marcas do corpo.
E o lugar sempre imóvel
da alma intemporal.
São Gonçalves.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012


Nostalgias de uma manhã de Natal.


Vivo na urgência dos dias
neste tempo de incertezas constantes
o frio que fere a noite corta a face das ruas
da cidade onde vivo.

Apesar da paisagem ser agreste e cinzenta
não me atinge o corpo por enquanto.

Trago colado ao peito
as memórias dos Natais passados
os odores da mesa sobriamente
recheada de sorrisos tímidos
no rosto de uma velhinha.

Trago a luz do meu país gravada
nas curva do meu olhar
e esta nostalgia fina que desperta
que me abate a cada manhã
neste dia de Natal.

São as ausençias dos que já partiram
e dos que ainda são presença
nesta longínqua distancia
e és tu figura ausente nesta manhã
na minha casa,mas tão presente
em cada palavra que escrevo.

Nesta manhã fria onde se comemora
o nascimento de uma criança
ou luz que renasce a cada manhã.



São Gonçalves

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A todos os meus amigos quero desejar um santo e feliz natal.
Que o menino Jesus traga na sua luz a esperança e a coragem necessaria para enfrentar mais um ano.
Boas festas a todos.
São Gonçalves

domingo, 16 de dezembro de 2012

Antologia- lugares e palavras.
editora o lugar da palavra-20112

Porque amanhã é Natal.

As ruas desertas ecoam um ultimo grito
o mendigo sozinho,esquecido no seu cobertor
restos de jornais esquecidos
restos de vida no seu corpo franzino
...
sustem ainda um ultimo sopro
a vida suspensa nas gotas brancas
de neve caída dos beirais…

Porque amanhã é Natal

A viúva esquecida no seu leito
de dor e saudade
esquecida dos homens que gerou
restos de amores,de sonhos
canta uma eterna melodia
restos de infância....

Porque amanhã é Natal
A criança sozinha no seu mundo
órfã da vida,de sonhos
o ventre vazio,o olhar distante
num mundo que nunca conhecerá
solta um sorriso inocente...
Porque amanhã é Natal

O poeta escreve o lado belo da vida
com o fulgor da juventude
só ele acredita na força da palavra
na luz dos seus versos
na esperança divina
na magia do um novo nascimento
Porque amanhã é Natal.

São Gonçalves.

Porque Natal é sempre que brilha uma luz diferente no olhar de cada homem.

Uma luz de esperança.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Era um corpo escondido na palidez da parede,nua e fria

escondido no silêncio amordaçado de gestos

nu e frio o silêncio do granito cinzento

e os restos de corpo eram a luz que iluminava a escuridão

o corpo que se escondia de todos os excessos
...



excesso de amor,excesso de dor

de palavras,de silêncios,de murmúrios.

de palavras segredadas ao cair da noite

excesso de mundo espelhado nos gestos

mundanos de vestes luminosas.



na passagem do tempo,nas esquinas das avenidas

fantasmas,a noite e a lucidez caminham de mãos dadas

efémero o rosto cansado que se esconde

a alma projectada num ângulo maior

a razão era uma lamina aguçada rasgando o altar dos deuses.



irresistível o desconhecido ,a fina dor

rasgando o corpo idolatrado pelas palavras

o mundo das quimeras,a ilusão projectada

em mil pedaços de tamanhos diversos.



A noite ,o céu ausente de luar

o corpo mutilado nos escombros de um pensamento

as sombras secretas de uma luz

que se se acende no silêncio

nas fracturas simuladas ,nas crateras existenciais



haveria de esperar que alguém lhe descobrisse o rosto

sem mascaras ,sem adornos,apenas a verdadeira imagem

de um homem nas linhas de um poema.


São Gonçalves.

No fundo da noite ,

a luz, a cor

...
o raio cintilante

rasgando o ventre

da escuridão

a curva do tempo

os estilhaços do vento

cristais dispersos

na pele

nas sombras do mar

a-mar a cor

dispersa em fragmentos

geometricamente

alinhados

velas de esperança

navegando num espaço

sideral

e eu amo

cada pigmento

visto e revisto

o corpo da emoção

a marca da água

salpicada

de pedras preciosas

a vida navegando

nas linhas precisas

a terra

a luz

a lua

a alma ali

tão feéricamente

exposta

na mudez

de uma alma

NUA!


São Gonçalves.
Foto-Kim....

Quando as palavras desenham os contornos do rosto

os símbolos alastram-se em significados diversos

...
e o mundo explica-se nos contornos do olhar

na nítida luz iluminando a sobriedade dos gestos

escondidos do criador.


São Gonçalves

Porque nunca sabemos de antemão

a cor dos gestos,o significado das emoções

A coencidência do acaso

faz da cor do céu mais azul.....


...
Ah os acasos que nos atiram para o incompreensivel das coisas

para a infinita consciência das correspondencias divinas.


São Gonçalves.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Cerraram-se os olhos na primavera dos dias

e o silêncio entra de repente pela porta

agora fechada ,

...
Ali no sitio das palavras

mora agora uma borboleta colorida

lembrando a doçura e os gestos suaves

e eu aqui de olhos semi-cerrados

abraço o vazio onde habita

por agora,o vácuo da imensa dor.


São Gonçalves

Foto-Francesco Sambo.

Comme un déluge le silence
S’abat sur le corps
Sur les mains tremble
L’infini du monde
...
La parole se cache
Sur le moment
La vague ferme, féroce
Crie la rage
D’une mer étrange…
Miroir de l’âme
Du monde…


São Gonçalves

Peregrina nos dias ausentes de sol

clamo um sonho novo

que se desprende dos cabelos

...
longos ,borboletas esvoaçam

ensinam-me caminhos novos

ângulos de ternura,desenhada

no céu cinzento.


Esqueço a chuva,elevo o rosto aos céus

e abraço com audácia um coração liberto.

São Gonçalves.

No silêncio da casas sopra a brisa do tempo

nas vidraças semi-abertas esvoaça uma leve

caricia que mansamente se aninha no meu olhar

...
descansado das lutas.


Acolho a caricia no meu regaço

e parto tranquila para uma nova noite

onde oiço o doce murmurar de um rio distante.


São Gonçalves

Tela-João Mario.

Há uma certa magia na claridade da manhã

o tempo parou nas mãos do pintor

...
instantes de luz nos contornos das casa

e a vigilante ternura de um rio

silencioso e sereno banhando os pés da colina.


Há uma certa clarividencia ilustrando o cenário

a pureza cândida de uma flor purpura

e isto tudo olhando os cantos da sala.


São Gonçalves.

Foto-Kim......

Chega a um tempo em que tudo muda,

guardam-se as velhas cartas escritas

...
amarelecidas num bau de memorias

e o tempo gasta-se na construção

de sonhos novos.


Chega a um tempo em que se recomeça novos ciclos

inventam-se novas palavras,novas histórias....


São Gonçalves.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Desenham-se nos contornos do rosto o desejo escondido,aromas de luz e de sombras albergadas nas esquinas do sentir
Sentir a imensidão da ternura,o toque aveludado dos dedos,a convulsão do desejo guardado na efémera epiderme,albergue da paixão e das memórias e dos dias
Singela a pureza,singela a escuridão das sombras que escondem a verdade ,a verdade de querer.de querer sempre prolongar o odor do perfume dos amantes
Querer ser a luz projetada nas linhas do rosto,querer ser o amor que teimosamente se aspira nas pétalas da verdade , desabrochando aos poucos,como uma rosa purpura que se trás junto ao coração
Gostar do odor ,do gosto da terra que se evapora nas crateras,do odor da terra em plena noite de verão,gostar de ti como uma lua prateada que ilumina
os corpos cansados da entrega.E respirar isto tudo no silêncio do olhar escondido,num rosto saciado e pleno das noites que foram de desejo e entrega.
E continuar a ser a luz ,a sombra,o amor e o desejo,e voltar ao mesmo lugar,onde se mistificam os corpos nos altares onde apenas uma pequena luz jorra, e ser palavra e poema,e ser rosa e diadema.
E ser eu e tu ,na vertigem de uma noite de estrelas cadentes .....
São Gonçalves.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Há dias assim carregados de bruma

embora não sendo vazios

carregam neles esta fina nostalgia

que se cola ao peito,ao sentir

Há dias assim,carregados de tudo
...

e vagos de sentido.

Murmurios de luz
in-ALICERCES uma pedra mais para a casa da acreditar no Porto-2012-Editora,Midaffair.


Desabitadas as casas,onde o tempo parou

neste pequeno espaço a tristeza tatuada

nas paredes nuas...frias ...a vida ausente
...

o silêncio ecoando nos trilhos do destino.


Janelas abertas ao mundo

raios de luz cegando a escuridão...


E a esperança entrando...vigiando os cantos

acordando aos poucos as paredes

semi-adormecidas na passagem das horas

das estações...dos anos.


Há uma nova cor brotando

invadindo aos poucos a solidão...


Raios de luz,de sol...a vida gritando

o céu azul espreitando entres a folhas

o vento soprando uma brisa suave

murmúrios do mundo ...ausente

o som da renovação.


São Gonçalves

foto-Kim...

Há tanta serenidade no rosto da melancolia

e o cinzento do tempo que se cola ao rosto

...
encostada ao espelho da saudade

terias de descansar das mil e uma noites


onde o amor te embalava o sentir...


Olhar distante no reflexo do do destino

amarás-pensas com a nudez do desencanto.

São Gonçalves

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cruzam-se caminhos,abismos existenciais

a eterna procura dos viajantes nas longas estradas

peregrinos de fé e de esperança

alquimistas das dores que diariamente carregam no peito.
...


Partem,em longas noites de solidão

seguem a infinita fé que carregam no coração



Ás vezes avistam ao longe uma luz

altares do mundo construídos

pelas mão calejadas dos homens

no interior do deserto,no interior da alma.


Sobem e descem caminhos desconhecidos

partilham histórias de homens pela fé vencidos.


Procissões continuas na passagem dos anos

essa impenetrável consciência do sagrado

a derradeira vontade de encontrar a salvação

entre o amargo da vida ,e o doce caminho da ilusão.


Soubéssemos um dia entender a fé da humanidade

olharíamos então o mundo na sua verdadeira concavidade.

São Gonçalves.
Sentidos diversos ,monogramas da vida

um rasgo de sentimento aqui,a doçura

viagens de ida e volta ao coração da palavra

...
O encanto das fadas ,escrito em linhas

douradas e purpuras

o desencanto dos livros esquecidos

nas prateleiras austeras e bolorentas

e a vida ,os dias,a passagem das horas

num relógio invertido

na tua mente cansada das viagens

sem destino.



Talvez um dia consigas esquecer a dor

num livro escrito a ouro,numa árvore

plantada no centro do coração

e a viajem magica se encontrará desenhada

nas linhas decalcadas em pétalas de emoção.

São Gonçalves.

sábado, 17 de novembro de 2012

È na fragilidade de uma gota de orvalho que se sente a efémera ligação dos laços.

Só os mais fortes se agarram a magia das silenciosas brumas,alimentando-se das infinitas gotas

que restam na memória das palavras.


São Gonçalves

Foto-Kim...

O frio já começa a entrar pelas frinchas das casas

instala-se vagarosamente na fina poeira

...
dos quadros pendurados nas paredes

nos quartos de camas arrumadas

na sala vazia de memórias.


O frio das estações a povoar os corpos

já gastos dos anos



Trago-te nas mãos um pouco de calor

O sol derramado numa taça de chá

fruto da colheita da ultima estação.


Percorro os dias as noites ,as madrugadas

num barco imaginário,atravessando um rio

de palavras,imagens,figuras imaginarias

...
rios transbordando o leito da minha imaginação.


Percorro enseadas repletas de amores

pombas sobrevoando o céu do encantamento

e os dias são mais doces e belos

quando te vejo passar.


Trazes nas mãos a doçura dos dias amenos

a ternura vestida de cores claras.

A realidade ausenta-se do meu peito

e as fadas do encantamento

abraçam o pequeno barco de papel.


As palavras navegam na doçura

de uma folha lançada nas mãos do poeta.



São Gonçalves.

Cresço olhando o futuro na ponta dos ramos contemplando a luz do sol.

mas nada seria sem a força das raízes que se alimentam nas memórias do passado.


São Gonçalves.
Foto-Mario Mencacci.

Arrastam-se os dias devagar nas longas avenidas,

caminha-se a medo,

como a medo se olha o dia seguinte.


...
Devagar ,sempre devagar

exilado num momento,

áspero,como o vento que corta a pele.

Foram longos os anos que me trouxeram até aqui.


Foram tantas as esperas,

a luta derradeira,a guerra por demais vencida.

Ainda esperei encontrar-te nas tardes de outono,

quando as folhas amarelecidas pelo sol ,

pintavam o mundo de uma cor exótica.


Arrastando o corpo na brancura do inverno

o fim do caminho espreita.


Pudesse ainda olhar para trás

e dizer-te o calor que me arde no peito.


São Gonçalves.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A amizade é tão somente isto...uma palavra,um poema...um chá tomado numa mesa da cozinha...ou o silêncio guardado nas entrelinhas de um dia,de uma frase,de um momento,a amizade é a luz clara da primavera,um punhado de flores,de pétalas ,as mãos que se juntam num momento efémero ,marcado nos leitos da eternidade.......



São Gonçalves

Fustigado o olhar diante das tempestades

abraça uma esperança ainda que vã

...
de se abrigar na luz

da palavra erigida nas encruzilhadas

do destino.


São Gonçalves.
Silenciadas as palavras ,escuto a voz do vento,aprendo um ritmo novo na pequenez com que me revejo no espelho do mundo.

São Gonçalves

Ah! tão gigante o deserto ,imenso este espaço inóspito

colunas de vento agreste rasgam as vestes

a pele,o coração,a alma.

...
Perdido no tempo,entre as sombras dos homens

e a luz que cega o olhar descuidado

Temerários os caminhos,os desejos

a procura absurda de abandono

o desespero das causas perdidas

Minúsculo como um grão de areia

ainda te sentes desertar

nas vozes amargas e acusadoras

na tentativa de apagar o oásis prometido.

Não,não me venhas falar do abandono

da imensa vontade de silêncio

assolando os cantos do quarto

onde te perdes como num imenso deserto.

Há tantos sois esperando nas frinchas das janelas

tantas luas espreitando nas noites

de insónia

Há ainda tantas dunas a escalar

tantos desertos,de infinitas lonjuras

esperando os passos

de quem ainda tem tanto

para caminhar.


São Gonçalves.

De nada vale a luz da lua

a claridade fresca da manhã

...
as flores não perfumam o rosto

embriagam o peito colhido do sangue

da ultima caçada...


Vestem-se de palavras arrancadas

nas noites de insónia


Vibram quando a noite é mais cerrada

e a loucura atinge limites de desconforto

se pudessem não tardariam

a soltar os lobos ferozes

com que nas noites frias soltam a caça.

São Gonçalves

Foto-António Santos Silva.

Na serena frescura da tarde,acordam-se os gestos tão subtilmente desenhados na curva de um olhar atento.

O frio que rasga o rosto ainda está longe,o outono espaira-se por entre o rio e a folhagem das árvores.

...
Sentado na borda do rio,olhar distante e mudo,o homem ensaia uma nova viragem.

Silenciaram-se as aves,os cantos dos passaros já nem se ouvem ao longe.

e ele ali sentado,teria todo o tempo do mundo para amar outra vez....


São Gonçalves.

Ainda que eu veja o tempo passar

as chuvas encherem os caudais dos rios

as tempestades enegrecerem os céus

...
os lagos cederem o espaço aberto

aos nenúfares ,símbolos d'alma

na escuridão do fundo renascida

encontrarei sempre

a paz reflectida em espelhos d'água

na beleza de uma flor

d'inverno.


São Gonçalves.

Agarro a terra que me viu nascer

agarro-a com raiva,com paixão

...
aperto-a entre os dedos

sinto-lhe o sabor amargo

a rudeza da vida

sinto-lhe o sentimento

perdido na cor escura e fria

e faço nascer uma nova flor

sangue novo filtrado

na palma da minha mão.


São Gonçalves.

sábado, 10 de novembro de 2012

Emergir no silêncio das águas
na profundeza dos míticos oceanos
e ouvir o marulhar das ondas
acariciando o corpo...

tocando levemente
as sonoridades que só eu componho
nos reflexos da superfície
onde por vezes vou respirar…
...

Vestida de segredos
acalento no peito a eterna
transformação da alma
no murmúrio do tempo...

Despida de vestes mundanas
mas ainda assim impossível
vislumbrar o meu corpo
de onde pendem ainda
rubras caravelas portuguesas…

Danço, danço a valsa da vida
em constantes mutações
esferas angulares
que guiam as novas estações...

Em círculos e elipses musicais
que se interceptam noutras danças
em que abro os olhos
a novas crenças para a existência
Não me permito perder
em dilúvios existenciais
enquanto for capaz
de ultrapassar
todos os naufrágios...

Poderei ser obrigada
por deuses e intrigas
a afundar-me sem ternuras
nem avisos do além
mas viverei ainda assim
debaixo do Mar…

São Gonçalves / Jc Patrão
Agarro a terra que me viu nascer

agarro-a com raiva,com paixão

...
aperto-a entre os dedos

sinto-lhe o sabor amargo

a rudeza da vida

sinto-lhe o sentimento

perdido na cor escura e fria

e faço nascer uma nova flor

sangue novo filtrado

na palma da minha mão.


São Gonçalves.


Baixo os olhos na penumbra das janelas

fechadas,a sombra da ausência

...
sentou-se a um canto da sala

o lugar vazio na entrada da noite

e a palavra muda da antiga

morada onde se bebia o vinho

e a palavra era a sala de estar.


Colho agora no regaço

o silêncio das coisas antigas

onde apenas mora o reconforto

do solene abraço.


São Gonçalves
Distantes os tempos que de perto sinto...presentes as distâncias nos longos rios do aconchego...passado, presente e futuro numa união imensa estendida nas linhas de equilíbrios vibrantes...pedaços de meras passagens.....
.excertos de passa...
gens marcantes onde as palavras divagam...misturas; às quais se chama aprendizagem...o coração silencia nas questões, que o não deixam ler mais páginas brancas, na visão de as antever...Se ao menos pudéssemos parar o tempo por meros instantes e viver intensamente a paragem dos ponteiros num relógio enigmático onde não haveria longe nem distancia.

Seriamos um afago,um abraço,a ternura desenhada nos rostos,na candura de um rosto de criança.

Não sei se as palavras seriam a ponte necessária as trocas de sentimentos,talvez neste mero instante em que o relógio mantesse o seu equilíbrio no ínfimo instante de in-movimento as almas se revessem na sua mais profunda claridade da existência..e então dos rostos a luz clarificaria todos os estados d'alma.

Teimosamente ainda alimento a minha passagem de quimeras e de sonhos,talvez seja aqui a minha derradeira salvação.

No ultimo momento ,nesse instante relembrarei as formas e os contrastes dos rostos que se cruzaram um dia com o meu,num leito de um rio que cresceu dentro do meu peito.E como num baú de velhas lembranças guardarei como presentes valiosos as imagens da ternura codificada.

Guardarei para sempre as formas dos sorrisos...largarei nas águas do rio os ténues sentidos do meu olhar...mergulharei uma e outra vez...ao encontro dos encontros que não me esquecem...não buscarei mais encontros nem remarei nas maré incertas...ficarei na Primavera a recolher pétalas...de todas elas as mais belas são as das papoilas que nascem bravias...rubras e voltam sempre nos campos de espigas!

(In)certo o tempo,o vagar das horas e dos minutos quando percorro alamedas magnificas ,árvores seculares abraçando as bermas,telas pintadas num único rasgo de beleza....
Entre o magnifico e o belo perco o olhar...submeto o pensamento ao tempo...somente para voltar a ver se há ou não magnitude ou beleza...no sentir que assim diz...no entanto os campos serão sempre verdejantes de tempos em tempos perdem a cor na renovação...sublime é a natureza que sabe os ciclos e deles não foge...os adornos são a efemeridade de tudo num espaço que se sente em consentir...mudar é estar na vida...deixar de achar algo de uma coisa intransponível...não é mudança mas sim revelação...do tempo nas cores da natureza humana!
*
*

[Memórias da (in)certeza]
Ana Coelho

São Gonçalves.

domingo, 4 de novembro de 2012

Não há nenhum mistério na fragilidade da vida a sua força reside no contraste da sombra,na áspera e agreste violência dos dias e a doçura e singela flor resistindo na passerelle do inverno.


São Gonçalves

Foto-Masha Sardari

Sempre caminhei na solidão das ruas ,estendi a mão aos caminhantes que por mim passaram,larguei-a quando o cansaço se apoderou dos olhos deles...

Entre um passante e outro ,tentarei ter sempre a mão estendida,com a flor da poesia.

São Gonçalves

É imensurável a grandeza do que desconheço,e ínfima a pequenez do que sei,ainda bem,pois isto faz de mim uma questionadora do mundo.....

São Gonçalves.

Não se fica vazio quando partilhamos o coração aos pedaços e dividimos cada particula em dádivas altruistas...mesmo quando o eco se faz mudo...aprendemos com o silêncio...com o vazio...com a certeza que demos o melhor.....

São Gonçalves.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Imperiosas as palavras ,quando se calam na boca

na ponta dos dedos esmorecidos da labuta

apenas se ouve o silêncio dos passos

no chão,rumores sensíveis ecoando

entre as folhas de outono espalhadas
...

fustigadas nas bermas de um vento

trazido na memória das brisas suaves

que antecederam o Verão.


Hoje apenas contemplo aquela velha casa

espaço perdido algures ,no descampado

de um monte escondido

nas brumas e na lembrança


Percorro velhos caminhos,abraço o silêncio das árvores

e dedico-te o silêncio das palavras que nunca te soube dizer.

São Gonçalves
 
Na sombra da noite esconde-se o rosto ao mundo

desfaz-se o momento num silêncio profundo

até ao amanhecer.

São Gonçalves.

Na cor do crepúsculo inventa-se um olhar novo

inala-se o odor da ultima monção

encosta-se o corpo as paredes do tempo...

inquieto o voar das aves
...

e o olhar solitário do marinheiro

quando a horizonte

a luz teima em silenciar

o medo das inglórias

fainas.....


São Gonçalves.
Sei que estas aqui ao pé de mim,visitas-me sempre nessa serenidade com que vi passar em ti todos os anos,todos os Invernos.

procuro-te nos recantos da casa que ainda habita a minha memoria,e sinto.lhe os cheiros,os cheiros a ti.

Já me esqueci do caminho ,que me poderia fazer regressar a casa,neles não via que sombras e solidão.

Sei que ainda habitas aquela velha casa,mas tu apenas habitas dentro do meu peito.

Sei que não me esqueces ,nessa solidão que te preenche agora os...
dias e as noites,eu,também não te esqueço.

Viveras em mim para sempre,muito para alem dos teus dias,muito para alem dessa incansável fadiga que nos corrompe o corpo.

Sei que estas aqui ...


São Gonçalves