O silencioso canto das aves migratórias

O silencioso canto das aves migratórias

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Há dias assim carregados de bruma

embora não sendo vazios

carregam neles esta fina nostalgia

que se cola ao peito,ao sentir

Há dias assim,carregados de tudo
...

e vagos de sentido.

Murmurios de luz
in-ALICERCES uma pedra mais para a casa da acreditar no Porto-2012-Editora,Midaffair.


Desabitadas as casas,onde o tempo parou

neste pequeno espaço a tristeza tatuada

nas paredes nuas...frias ...a vida ausente
...

o silêncio ecoando nos trilhos do destino.


Janelas abertas ao mundo

raios de luz cegando a escuridão...


E a esperança entrando...vigiando os cantos

acordando aos poucos as paredes

semi-adormecidas na passagem das horas

das estações...dos anos.


Há uma nova cor brotando

invadindo aos poucos a solidão...


Raios de luz,de sol...a vida gritando

o céu azul espreitando entres a folhas

o vento soprando uma brisa suave

murmúrios do mundo ...ausente

o som da renovação.


São Gonçalves

foto-Kim...

Há tanta serenidade no rosto da melancolia

e o cinzento do tempo que se cola ao rosto

...
encostada ao espelho da saudade

terias de descansar das mil e uma noites


onde o amor te embalava o sentir...


Olhar distante no reflexo do do destino

amarás-pensas com a nudez do desencanto.

São Gonçalves

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cruzam-se caminhos,abismos existenciais

a eterna procura dos viajantes nas longas estradas

peregrinos de fé e de esperança

alquimistas das dores que diariamente carregam no peito.
...


Partem,em longas noites de solidão

seguem a infinita fé que carregam no coração



Ás vezes avistam ao longe uma luz

altares do mundo construídos

pelas mão calejadas dos homens

no interior do deserto,no interior da alma.


Sobem e descem caminhos desconhecidos

partilham histórias de homens pela fé vencidos.


Procissões continuas na passagem dos anos

essa impenetrável consciência do sagrado

a derradeira vontade de encontrar a salvação

entre o amargo da vida ,e o doce caminho da ilusão.


Soubéssemos um dia entender a fé da humanidade

olharíamos então o mundo na sua verdadeira concavidade.

São Gonçalves.
Sentidos diversos ,monogramas da vida

um rasgo de sentimento aqui,a doçura

viagens de ida e volta ao coração da palavra

...
O encanto das fadas ,escrito em linhas

douradas e purpuras

o desencanto dos livros esquecidos

nas prateleiras austeras e bolorentas

e a vida ,os dias,a passagem das horas

num relógio invertido

na tua mente cansada das viagens

sem destino.



Talvez um dia consigas esquecer a dor

num livro escrito a ouro,numa árvore

plantada no centro do coração

e a viajem magica se encontrará desenhada

nas linhas decalcadas em pétalas de emoção.

São Gonçalves.

sábado, 17 de novembro de 2012

È na fragilidade de uma gota de orvalho que se sente a efémera ligação dos laços.

Só os mais fortes se agarram a magia das silenciosas brumas,alimentando-se das infinitas gotas

que restam na memória das palavras.


São Gonçalves

Foto-Kim...

O frio já começa a entrar pelas frinchas das casas

instala-se vagarosamente na fina poeira

...
dos quadros pendurados nas paredes

nos quartos de camas arrumadas

na sala vazia de memórias.


O frio das estações a povoar os corpos

já gastos dos anos



Trago-te nas mãos um pouco de calor

O sol derramado numa taça de chá

fruto da colheita da ultima estação.


Percorro os dias as noites ,as madrugadas

num barco imaginário,atravessando um rio

de palavras,imagens,figuras imaginarias

...
rios transbordando o leito da minha imaginação.


Percorro enseadas repletas de amores

pombas sobrevoando o céu do encantamento

e os dias são mais doces e belos

quando te vejo passar.


Trazes nas mãos a doçura dos dias amenos

a ternura vestida de cores claras.

A realidade ausenta-se do meu peito

e as fadas do encantamento

abraçam o pequeno barco de papel.


As palavras navegam na doçura

de uma folha lançada nas mãos do poeta.



São Gonçalves.

Cresço olhando o futuro na ponta dos ramos contemplando a luz do sol.

mas nada seria sem a força das raízes que se alimentam nas memórias do passado.


São Gonçalves.
Foto-Mario Mencacci.

Arrastam-se os dias devagar nas longas avenidas,

caminha-se a medo,

como a medo se olha o dia seguinte.


...
Devagar ,sempre devagar

exilado num momento,

áspero,como o vento que corta a pele.

Foram longos os anos que me trouxeram até aqui.


Foram tantas as esperas,

a luta derradeira,a guerra por demais vencida.

Ainda esperei encontrar-te nas tardes de outono,

quando as folhas amarelecidas pelo sol ,

pintavam o mundo de uma cor exótica.


Arrastando o corpo na brancura do inverno

o fim do caminho espreita.


Pudesse ainda olhar para trás

e dizer-te o calor que me arde no peito.


São Gonçalves.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A amizade é tão somente isto...uma palavra,um poema...um chá tomado numa mesa da cozinha...ou o silêncio guardado nas entrelinhas de um dia,de uma frase,de um momento,a amizade é a luz clara da primavera,um punhado de flores,de pétalas ,as mãos que se juntam num momento efémero ,marcado nos leitos da eternidade.......



São Gonçalves

Fustigado o olhar diante das tempestades

abraça uma esperança ainda que vã

...
de se abrigar na luz

da palavra erigida nas encruzilhadas

do destino.


São Gonçalves.
Silenciadas as palavras ,escuto a voz do vento,aprendo um ritmo novo na pequenez com que me revejo no espelho do mundo.

São Gonçalves

Ah! tão gigante o deserto ,imenso este espaço inóspito

colunas de vento agreste rasgam as vestes

a pele,o coração,a alma.

...
Perdido no tempo,entre as sombras dos homens

e a luz que cega o olhar descuidado

Temerários os caminhos,os desejos

a procura absurda de abandono

o desespero das causas perdidas

Minúsculo como um grão de areia

ainda te sentes desertar

nas vozes amargas e acusadoras

na tentativa de apagar o oásis prometido.

Não,não me venhas falar do abandono

da imensa vontade de silêncio

assolando os cantos do quarto

onde te perdes como num imenso deserto.

Há tantos sois esperando nas frinchas das janelas

tantas luas espreitando nas noites

de insónia

Há ainda tantas dunas a escalar

tantos desertos,de infinitas lonjuras

esperando os passos

de quem ainda tem tanto

para caminhar.


São Gonçalves.

De nada vale a luz da lua

a claridade fresca da manhã

...
as flores não perfumam o rosto

embriagam o peito colhido do sangue

da ultima caçada...


Vestem-se de palavras arrancadas

nas noites de insónia


Vibram quando a noite é mais cerrada

e a loucura atinge limites de desconforto

se pudessem não tardariam

a soltar os lobos ferozes

com que nas noites frias soltam a caça.

São Gonçalves

Foto-António Santos Silva.

Na serena frescura da tarde,acordam-se os gestos tão subtilmente desenhados na curva de um olhar atento.

O frio que rasga o rosto ainda está longe,o outono espaira-se por entre o rio e a folhagem das árvores.

...
Sentado na borda do rio,olhar distante e mudo,o homem ensaia uma nova viragem.

Silenciaram-se as aves,os cantos dos passaros já nem se ouvem ao longe.

e ele ali sentado,teria todo o tempo do mundo para amar outra vez....


São Gonçalves.

Ainda que eu veja o tempo passar

as chuvas encherem os caudais dos rios

as tempestades enegrecerem os céus

...
os lagos cederem o espaço aberto

aos nenúfares ,símbolos d'alma

na escuridão do fundo renascida

encontrarei sempre

a paz reflectida em espelhos d'água

na beleza de uma flor

d'inverno.


São Gonçalves.

Agarro a terra que me viu nascer

agarro-a com raiva,com paixão

...
aperto-a entre os dedos

sinto-lhe o sabor amargo

a rudeza da vida

sinto-lhe o sentimento

perdido na cor escura e fria

e faço nascer uma nova flor

sangue novo filtrado

na palma da minha mão.


São Gonçalves.

sábado, 10 de novembro de 2012

Emergir no silêncio das águas
na profundeza dos míticos oceanos
e ouvir o marulhar das ondas
acariciando o corpo...

tocando levemente
as sonoridades que só eu componho
nos reflexos da superfície
onde por vezes vou respirar…
...

Vestida de segredos
acalento no peito a eterna
transformação da alma
no murmúrio do tempo...

Despida de vestes mundanas
mas ainda assim impossível
vislumbrar o meu corpo
de onde pendem ainda
rubras caravelas portuguesas…

Danço, danço a valsa da vida
em constantes mutações
esferas angulares
que guiam as novas estações...

Em círculos e elipses musicais
que se interceptam noutras danças
em que abro os olhos
a novas crenças para a existência
Não me permito perder
em dilúvios existenciais
enquanto for capaz
de ultrapassar
todos os naufrágios...

Poderei ser obrigada
por deuses e intrigas
a afundar-me sem ternuras
nem avisos do além
mas viverei ainda assim
debaixo do Mar…

São Gonçalves / Jc Patrão
Agarro a terra que me viu nascer

agarro-a com raiva,com paixão

...
aperto-a entre os dedos

sinto-lhe o sabor amargo

a rudeza da vida

sinto-lhe o sentimento

perdido na cor escura e fria

e faço nascer uma nova flor

sangue novo filtrado

na palma da minha mão.


São Gonçalves.


Baixo os olhos na penumbra das janelas

fechadas,a sombra da ausência

...
sentou-se a um canto da sala

o lugar vazio na entrada da noite

e a palavra muda da antiga

morada onde se bebia o vinho

e a palavra era a sala de estar.


Colho agora no regaço

o silêncio das coisas antigas

onde apenas mora o reconforto

do solene abraço.


São Gonçalves
Distantes os tempos que de perto sinto...presentes as distâncias nos longos rios do aconchego...passado, presente e futuro numa união imensa estendida nas linhas de equilíbrios vibrantes...pedaços de meras passagens.....
.excertos de passa...
gens marcantes onde as palavras divagam...misturas; às quais se chama aprendizagem...o coração silencia nas questões, que o não deixam ler mais páginas brancas, na visão de as antever...Se ao menos pudéssemos parar o tempo por meros instantes e viver intensamente a paragem dos ponteiros num relógio enigmático onde não haveria longe nem distancia.

Seriamos um afago,um abraço,a ternura desenhada nos rostos,na candura de um rosto de criança.

Não sei se as palavras seriam a ponte necessária as trocas de sentimentos,talvez neste mero instante em que o relógio mantesse o seu equilíbrio no ínfimo instante de in-movimento as almas se revessem na sua mais profunda claridade da existência..e então dos rostos a luz clarificaria todos os estados d'alma.

Teimosamente ainda alimento a minha passagem de quimeras e de sonhos,talvez seja aqui a minha derradeira salvação.

No ultimo momento ,nesse instante relembrarei as formas e os contrastes dos rostos que se cruzaram um dia com o meu,num leito de um rio que cresceu dentro do meu peito.E como num baú de velhas lembranças guardarei como presentes valiosos as imagens da ternura codificada.

Guardarei para sempre as formas dos sorrisos...largarei nas águas do rio os ténues sentidos do meu olhar...mergulharei uma e outra vez...ao encontro dos encontros que não me esquecem...não buscarei mais encontros nem remarei nas maré incertas...ficarei na Primavera a recolher pétalas...de todas elas as mais belas são as das papoilas que nascem bravias...rubras e voltam sempre nos campos de espigas!

(In)certo o tempo,o vagar das horas e dos minutos quando percorro alamedas magnificas ,árvores seculares abraçando as bermas,telas pintadas num único rasgo de beleza....
Entre o magnifico e o belo perco o olhar...submeto o pensamento ao tempo...somente para voltar a ver se há ou não magnitude ou beleza...no sentir que assim diz...no entanto os campos serão sempre verdejantes de tempos em tempos perdem a cor na renovação...sublime é a natureza que sabe os ciclos e deles não foge...os adornos são a efemeridade de tudo num espaço que se sente em consentir...mudar é estar na vida...deixar de achar algo de uma coisa intransponível...não é mudança mas sim revelação...do tempo nas cores da natureza humana!
*
*

[Memórias da (in)certeza]
Ana Coelho

São Gonçalves.

domingo, 4 de novembro de 2012

Não há nenhum mistério na fragilidade da vida a sua força reside no contraste da sombra,na áspera e agreste violência dos dias e a doçura e singela flor resistindo na passerelle do inverno.


São Gonçalves

Foto-Masha Sardari

Sempre caminhei na solidão das ruas ,estendi a mão aos caminhantes que por mim passaram,larguei-a quando o cansaço se apoderou dos olhos deles...

Entre um passante e outro ,tentarei ter sempre a mão estendida,com a flor da poesia.

São Gonçalves

É imensurável a grandeza do que desconheço,e ínfima a pequenez do que sei,ainda bem,pois isto faz de mim uma questionadora do mundo.....

São Gonçalves.

Não se fica vazio quando partilhamos o coração aos pedaços e dividimos cada particula em dádivas altruistas...mesmo quando o eco se faz mudo...aprendemos com o silêncio...com o vazio...com a certeza que demos o melhor.....

São Gonçalves.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Imperiosas as palavras ,quando se calam na boca

na ponta dos dedos esmorecidos da labuta

apenas se ouve o silêncio dos passos

no chão,rumores sensíveis ecoando

entre as folhas de outono espalhadas
...

fustigadas nas bermas de um vento

trazido na memória das brisas suaves

que antecederam o Verão.


Hoje apenas contemplo aquela velha casa

espaço perdido algures ,no descampado

de um monte escondido

nas brumas e na lembrança


Percorro velhos caminhos,abraço o silêncio das árvores

e dedico-te o silêncio das palavras que nunca te soube dizer.

São Gonçalves
 
Na sombra da noite esconde-se o rosto ao mundo

desfaz-se o momento num silêncio profundo

até ao amanhecer.

São Gonçalves.

Na cor do crepúsculo inventa-se um olhar novo

inala-se o odor da ultima monção

encosta-se o corpo as paredes do tempo...

inquieto o voar das aves
...

e o olhar solitário do marinheiro

quando a horizonte

a luz teima em silenciar

o medo das inglórias

fainas.....


São Gonçalves.
Sei que estas aqui ao pé de mim,visitas-me sempre nessa serenidade com que vi passar em ti todos os anos,todos os Invernos.

procuro-te nos recantos da casa que ainda habita a minha memoria,e sinto.lhe os cheiros,os cheiros a ti.

Já me esqueci do caminho ,que me poderia fazer regressar a casa,neles não via que sombras e solidão.

Sei que ainda habitas aquela velha casa,mas tu apenas habitas dentro do meu peito.

Sei que não me esqueces ,nessa solidão que te preenche agora os...
dias e as noites,eu,também não te esqueço.

Viveras em mim para sempre,muito para alem dos teus dias,muito para alem dessa incansável fadiga que nos corrompe o corpo.

Sei que estas aqui ...


São Gonçalves


No chá de Deus.





...
- Desde ontem que só sinto frio. Um frio estranho, como se o meu corpo estivesse nu, apesar de ter já 2 camisolas um cachecol, meias e botas.



- Hoje também o sinto eu. Este frio já me deixa receosa do inverno que vem por aí.



Eu sempre preferi os lugares quentes,onde não tivéssemos que aquecer o corpo mesmo quando chegassem os invernos...mas este que ai vem congela-me os sentidos,o pensar.

a alma gela-se e como um pedaço de gelo ,cristaliza-se nas longas noites incertas.



- Dizem que os invernos são fartos, quando se tem frio.



- Dizem? Será por isso que tapas e destapas o frio, consoante a leva que o leva e o traz?



Dizem as bocas que já se habituaram a tantas estações que já muito pouco lhes altera os corpos,calejados do tempo e dos ventos agrestes.



- Sim, nem sei onde ouvi isto, nem que frio estranho é este meu. Não sei. Nunca o senti nos anos anteriores nesta mesma data.



- Será que o sol já derreteu todos os glaciares e deixou-os por aí ao Deus dará?



Será que o diluvio ainda estará para chegar?Quando as neves de todos os continentes gelados encontrarem a rota desconhecida.Será que o Divino ainda nos ofertará mais esta derradeira provação...sobreviver ao diluvio do tempo e ser capaz de encontrar novos caminhos,novos trilhos.

Será que depois uma águia negra ainda sobrevoará as nossas cabeças exaustas das ultimas tempestades,mesmo depois do diluvio....



- Deus criou o homem à sua imagem, mas a imagem do homem ainda não se parece com Deus.



- Meu Deus! Que frio é esse que te condena a seres mais um cubo de gelo no chá de Deus?

(...)





(Dolores Marques - Epifânia & Ainafipe – Ao espelho)
(São Gonçalves)
Foto-摄谜谜


Serenas as águas quando o rio acorda no silêncio magico, na nostalgia que abarca o navegador solitário.
Brandas as brumas quando ensaiam um novo amanhecer.
E após o ensaio o pano ténue abre...os horizontes ficam perto da distância que cada olhar consegue alargar...os remos guiam as mãos calejadas de amor...solitário bravio que navega no fio de rubro sentir!
A serenidade navega por entre as árvores, a solidão do tempo agreste haverá
de se dissipar um dia nas enc...
ostas dos montes.
Viemos de um tempo onde as madrugadas eram frias e cinzentas, os corpos escondidos na bruma clamavam o sol, e ele sempre altruísta haveria de nos aquecer os corpos e iluminar as manhãs, todas as manhãs do viver.
Nesse tempo foram esboçadas múltiplas escaladas...ingremes...os olhares perderam-se sem nunca desfocarem as origens nem os objectivos ...correm as águas...correu o tempo...nada mais é igual nem mesmo as margens.
O que resta é o amanhã tão incerto...o passado escrito ficou no vento de cada memória...hoje, hoje é o sentir intenso que não tem tempo nem silêncios quando do âmago se recolhe mais serenidade.
As árvores mudam as folhas...sacodem com o vento e do sol bebem alimento para o florir acontecer ...serenas as raízes que na terra se afincam com tranquilidade de uma eternidade ser o tempo que o tempo deixar ser...

São Gonçalves&Ana Coelho
Num corpo desnudo
sem trunfos nem promessas
sem pinturas detalhadas
ou cicatrizes arrancadas
aos calabouços
da frágil existência
mas ricos de paradigmas
de vozes interiores
que gravam a alma
...
de sons,palavras,enigmas
contundentes perspectivas
tatuadas na superfície
da epiderme
e ainda assim...
faltam sarrabiscos
na página dos amores
aqueles sem sentido
nem recordações palpáveis
entre teias e cores pastel
aqueles que nunca souberam
marcar o tempo em sinónimos
abrangentes ,signos reveladores
de desinteressadas promessas
ou de dadivas inesperadas.
O tempo nada guardou
na superfície dos dias
talvez por isso
apenas resta aquele meio tronco
que permite respira
ainda que já sem face.
a memória do efémero
aquela que nunca foi
de relevante importância...
Nas linhas de um pequeno papel
sepia ,denunciando outro tempo.
Encontro a marca a negro
decalques dos amores
onde escrevi a negro
linhas invisíveis de palavras
as inconstâncias do tempo
espalhadas no mundo
pelos caprichos do vento.
Incontornavel é a certeza que
algures resiste ainda o livro
onde deveria repousar
este pedaço de papel bolorento
e inacabado...

Jc Patrão&São Gonçalves