O silencioso canto das aves migratórias

O silencioso canto das aves migratórias

quinta-feira, 1 de novembro de 2012


No chá de Deus.





...
- Desde ontem que só sinto frio. Um frio estranho, como se o meu corpo estivesse nu, apesar de ter já 2 camisolas um cachecol, meias e botas.



- Hoje também o sinto eu. Este frio já me deixa receosa do inverno que vem por aí.



Eu sempre preferi os lugares quentes,onde não tivéssemos que aquecer o corpo mesmo quando chegassem os invernos...mas este que ai vem congela-me os sentidos,o pensar.

a alma gela-se e como um pedaço de gelo ,cristaliza-se nas longas noites incertas.



- Dizem que os invernos são fartos, quando se tem frio.



- Dizem? Será por isso que tapas e destapas o frio, consoante a leva que o leva e o traz?



Dizem as bocas que já se habituaram a tantas estações que já muito pouco lhes altera os corpos,calejados do tempo e dos ventos agrestes.



- Sim, nem sei onde ouvi isto, nem que frio estranho é este meu. Não sei. Nunca o senti nos anos anteriores nesta mesma data.



- Será que o sol já derreteu todos os glaciares e deixou-os por aí ao Deus dará?



Será que o diluvio ainda estará para chegar?Quando as neves de todos os continentes gelados encontrarem a rota desconhecida.Será que o Divino ainda nos ofertará mais esta derradeira provação...sobreviver ao diluvio do tempo e ser capaz de encontrar novos caminhos,novos trilhos.

Será que depois uma águia negra ainda sobrevoará as nossas cabeças exaustas das ultimas tempestades,mesmo depois do diluvio....



- Deus criou o homem à sua imagem, mas a imagem do homem ainda não se parece com Deus.



- Meu Deus! Que frio é esse que te condena a seres mais um cubo de gelo no chá de Deus?

(...)





(Dolores Marques - Epifânia & Ainafipe – Ao espelho)
(São Gonçalves)

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