O silencioso canto das aves migratórias

O silencioso canto das aves migratórias

sexta-feira, 29 de junho de 2012

De olhar penetrante
Que nos seca os lábios
a pele gasta
pelas horas marcadas
por fantasmas de
sombras discretas
... e um relógio parado
no seu interior…
a solidão transfigurada
as multidões de espíritos
em seu redor
e as gravuras coladas
aos muros
deixadas por várias vidas,
alentos
cinzentos e gastos...

sinto-me disforme enquanto
contemplo o mundo
altero-me em ansiedades
paletas que percorro
as cores que nunca toquei
mas senti de longe
as mesmas que ainda me visitam
e ridicularizam a demência
das noites mal dormidas
numa sequência
que me é familiar
falam de humanidades e naturezas
na fragilidade singular
das palavras...
que se soltam sem pedir…

São Gonçalves / Jc Patrão
Olhando o mar.


...
Ficarei aqui olhando o tempo

neste monte perdido na colina

ter a coragem de ser solitário

na grandeza de um universo

vigiando as noites

na fugaz coragem de não ter medo

rasgar as trevas,a nuvens,densas

a escuridão.

Ficarei aqui como num sonho

que se sonha nas noites de insónia

olhando mar

enorme esperando por mim

neste apelo constante

de ser apenas luz

em noites de tempestade.

Ah! como sinto o tempo

passando na ventania

e como me sinto mais forte

quando os pássaros se aninham

no meu peito

quebrando o silêncio

numa doce melodia.

Fim de tarde.


...
Fim de tarde

serenas as águas

guardo o momento

mágico

na retina do meu olhar

esconde-se tímido

o sol

num véu de seda

suspenso na brisa

solta-se

o gesto ,ternura

reflexos na íris

a-mar.

Dourado o horizonte

fios tenues de luz

a ponte.
A Dança dos Deuses.

Incensos proibidos exalados
...
do coração da terra

perfumam o ar ,os céus ,

horizontes longínquos

vestidos d'ocre

véus cobrindo a cidade

cores quentes pairando no ar

na retina dos meus olhos

a mente liberta em palcos

 
de ninfas e deuses

labaredas rasgando o céus

cobrindo os templos
as serras os mares.



Silhuetas bailando

no coração do céu

num bailado transcendental

danças de luzes e sombras

num palco fantástico

a natureza ensaiando

um novo adormecer.


A terra quieta,muda

contemplando o espectáculo

adormece embalada

num cântico suave

na rara beleza

dos deuses bailando

a dança enigmática

da natureza.

No teu olhar-foto


... No teu olhar

o tempo para a sua rotação

o vento descansa o seu rodopiar

constante e agreste.

A tarde enfeita-se de cores ocres

o céu veste-se de finas sedas

transparentes e quentes

 
No teu olhar

a magia acontece no meu

contemplo o mundo

e a paz acontece

na retina do meu sentir.



No teu olhar.

não há a noite caindo na cidade

nem silêncio amordaçado

são risos rasgando o céu

em tons laranja e vermelho

e a melodia dos pássaros

entoando um cântico

adormecendo o mundo.



No teu olhar

a cidade adormece

devagar...
Esperanças tatuadas.


Planto no meu corpo
...
flores novas

esperanças tatuadas

de mistérios

pigmentos azuis

navegando

em lagos

de àgua doce.
O sol gira em volta

desenham-se figuras

geométricas

espelhos invertidos

de promessas.



Recebo-te no meu peito

jardim de palavras

nos gestos que acalmam

na doce magia

a contemplação

 de jardins exóticos

musica mensageira

dos enigmas

da alma.
No deserto


... No centro do deserto

do meu deserto

de areias douradas

e quentes.

ventos suaves

acariciando o espaço

construo templos

azuis

 
azuis

da cor do mar

da cor dos teus

olhos.

No centro do deserto

elevo o espírito

aos céus

na brandura doce

do teu olhar

Rasgo horizontes

no teu corpo

no infinito desejo

de te amar.
Espaços


... Solta-se a inspiração

nas paredes cor baunilha

despidas do meu quarto.



Das tuas mãos rumam cores fortes

expressões do sentir

correndo silenciosamente

por entre os segredos dos teus dedos.



Ainda que o preto trace o destino

querendo escurecer a paisagem que ao longe

desejo alcançar.

 
Cores laranja rasgando os espaços

raios brilhantes escondendo as sombras

iluminando os meus passos.


Ainda que por vezes me sinta perdida

por entre os vazios da parede

e as cores abstractas.



Encontro-me sempre na claridade

que intuitivamente

colocas na tela .



Cores laranja rasgando os espaços

raios brilhantes escondendo as sombras

iluminando os meus passos.


É possível apenas tentar escrever apenas o sol,a luz ,a claridade das manhãs que vestem a primavera,mas o corpo é esta simbiose entre a sombra e a luz que se espelha para além de todo o querer.No espaço e no tempo percorrem-se alamed...as molhadas pelas chuvas da ultima tempestade.escorregadios os caminhos que seguram os passos,inseguros os gestos,trémulos na angustia que me cercam as incertezas.

Pudesse apenas vestir-me de cores claras,alterar a mente em significações inventadas. Mas o tempo é esta duvida constante e permanente.Caminho nas veredas escuras,sou muitas vezes sombra que se esquece por entre as gotas da chuva,esperando o primeiros raios de sol da manhã.


Temo as certezas afiadas na ponta da língua ,de quem apenas vê o que o sol ainda quer mostrar,são luzes demasiado brilhantes ,demasiado perfeitas,cores da humanidade espreitando significados soberanos de seres escondidos na sua própria realidade.Não quero a perfeição das coisas inúteis,admito erros antigos,mas caminho em frente deixando-os evaporar na grandeza do universo.

Caminho este caminho de palavras inseguras que por vezes os dedos ainda temem em desbravar.Sou filha da terra ,das estações,sou filha da dor do desalento.


Pudesse ainda que sem vontade subir os leitos dos rios de cores duvidosas, matizes aromatizadas de alfazema e lilases ,enganosas quimeras esperando o primeiro conquistador.Pudesse ser musa perfeita ,divindade mitológica onde o erro é palavra ausente do dicionário dos mundos paralelos.


Sou muitas vezes a escuridão que me veste as noites,os tons da espiritualidade,aquecem-me o corpo e acalmam a alma apenas em breves instantes,onde me sinto calma e serena neste dedilhar de palavras arrancadas ao universo que trago no peito.


Já nem sei se a vida me embala nas manhãs claras,e a esperança renasce no corpo cansado,ou se me iludo num mundo onde apenas traspareçe a palavra perfeição.


Quando eu sou apenas esta amalgama de contradições entre o sol e a sombra,entre a luz e a escuridão.


São Gonçalves.
No fresco orvalho da manhã
escrevo a vida que corre
e partilho as sombras
que ninguém vê.
Retalhos de mim
nos vapores de um rio quente
... na alegoria da nascente
ribeiros que correm
na intermitência do tempo
águas serenas ou bravas
encontros desmistificados
nas correntes petrificadas.
Revolta a jusante
nos espaços infinitos
na imperceptível distância
nos enigmáticos silêncios.
Encontro ilhéus
que não me falam
mas tanto dizem
de um secreto mundo
de palavras tocadas pela brisa
escritas submergentes
destes pedaços que me compõem.
Pelos pensamentos que partilhados
não morrem com o ser
transformam-se em vida
multiplicam-se em soberanas
metamorfoses ...
...e...
juntam-se aos retalhos de alguém
numa manta eternizada
complexos bordados da existência
manufacturados pelas mãos
retratos do ser
eternos jardins de sentires
exalando odores de vida
são aromas que ficam
mas eu vou…
descansar dos cansaços
na sombra de um esplendoroso abraço
no abandono de um murmúrio
ou talvez me evapore em retalhos…

Jc Patrão/São Gonçalves

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Cerca-me este desejo de liberdade,este doce cântico das aves migratórias

a vontade de ser ave rasando as águas de um rio por inventar.

E esta sede de mundo que trago no peito,e este mar imenso

... o infinito horizonte ,a vontade de voar.

Longas asas abraçando o mar,o tempo,a vontade de ficar.

Silenciosas a brisas que por mim passam,nesta madrugada magica

Já me perdi e me encontrei em beirais de vontades impetuosas

nessa vontade louca de ficar,no cómodo torpor dos abraços

Voo de mansinho.rasando as águas que me embalam as noites

as madrugadas frias e melancólicas,

Não viro as costas ao mundo

porque do mundo pouco vejo,sinto-lhes as tristezas

a amargura tragada a cada manhã quando o futuro

se avizinha sem esperança.

A sombra do meu corpo pouco vale,neste mar imenso

onde a luz ainda brilha contra corrente das marés,

e onde a terra é apenas um mítico desejo

de conhecer o mundo por dentro,e nada sei ...

Apenas passo por ele,por esse bocado de terra

gritando liberdade,e as crianças avidas de vida

ainda esperam do céu azul,esse pedaço de mundo

que ainda é só meu ,a alegria de sonhar.

São Gonçalves.

domingo, 24 de junho de 2012

A ternura veste-se na manhã de cor sóbrias
entre um sorriso aberto e um olhar doce
dois mundos distantes ,aproximam-se
numa química perfeita,imaterial
na doçura,no encanto
na luz unica de ser
a magia num único universo
onde os temores se escondem
nas linhas ausentes
na candura visivel
na deslumbrante inocência
do olhar de criança.
O que fica para lá das palavras...
Um espaço vazio...ou um abraço?
O que vemos para lá da imagem
em que teimosamente
focalizamos o olhar.
... Palavras vazias,ou plenas
Flores gravitam no silêncio
do deserto
e eu aprendo um novo tempo
o tempo das palavras
despidas de cor
e plenas de emoção.
Como um rio/comme un fleuve

É nas manhãs que me visto de luz, e o sussurro das águas frescas embala-me os dias de melodias silenciosas, nascentes de paz no caminho, alento e as quedas de onde renasço protegem-me do abismo iminente, e eu vou por este rio acima, fugindo das tempestades, enfrentando as correntes... se das sombras nem vejo traços são buscas de um outro temp...o. Das árvores sinto o abraço dos frutos, a doçura nas águas de um lago, reminiscências trazidas dos tempos ancestrais da terra, o ventre.
.....
 
C’est au matin que je m’habille de lumière et le murmure des eaux fraîches bercent mes jours de mélodies silencieuses- sources de paix dans le chemin, courage - et les chutes d’où je me vois renaître me protègent de l’abîme imminent, et je remonte ce fleuve fuyant les tempêtes, affrontant les courants … si des ombres je n’en vois pas de traces c'est qu'il s'agit de quêtes d’un autre temps - des arbres, j’en ressens les fruits qui m'enlacent, la douceur dans les eaux calmes d’un lac, réminiscences des temps ancestraux de la terre, le ventre.

São Gonçalves.
Do livro Como um rio/comme un fleuve
12 maio 2012.Editora Pastelaria Estudios.

As margens abraçam as vestes lavradas

a terra grita silêncios

escondidos

num rio de serenatas orquestradas

pelas batutas de um impulso genuíno.

Das correntes serenas

águas repousadas

em leitos calmos

na candura das manhãs

E da ternura

as pontes erguidas

caminhos de sonhos

ousadia dos poetas

equilíbrio fugaz

barcos à deriva

em águas agitadas

O pensamento

e no fim da utopia

a realidade sonhada

é o concretizar de verdades.

Com a mão de um sentido

a procura do descanso

em abraços análogos

pleno companheirismo…

Impulsiona ao novo sonho

num acordar de auroras

a paz desejada

em esplendor

descansando das lutas

serenas levadas

o espírito descansado

com o âmago em louvor…

das águas de um rio

cantando a paz

no nascer

em novas alvoradas.

São Gonçalves/Ana Ana Coelho




Les rives embrassent les vestes brodées

la terre crie des silences

cachés

dans un fleuve de sérénades orchestrées

par les baguettes d'un mouvement

unique des courants sereins

Eaux reposées

en lits tranquilles

dans la blancheur des matins.

Et de la tendresse

des ponts qui se lèvent

chemins de songes

audace des poètes

équilibre fugace

des bateaux

à la dérive

dans des eaux agitées.

La pensée

et à la fin de l’utopie

la réalité rêvée

est l’aboutissement de vérités

Avec la main d’un sentir

la quête du repos

en étreintes semblables

loyauté totale entre compagnons.

Donne corps à un nouveau rêve,

au réveil d'aurores

la paix désirée

dans toute la splendeur

se reposant des luttes

canaux aux eaux sereines

l’esprit reposé

le cœur en louanges…

des eaux d’un fleuve

chantant la paix

à la naissance

de nouvelles aurores.

São Gonçalves /Ana Coelho.



DO LIVRO
Como um rio/comme un fleuve
... Pastelaria estudios maio 2012

A cidade vibra aos sons das gentes que correm, as ruas
repletas de marionetas na procura de um sentido, são gentes
que se escondem e se perdem nos sons de um mundo em
constante evolução, e eu procuro nelas o olhar, as palavras
que definam a sua existência. Pergunto ao homem que se
passa, diz-me do teu silêncio? O homem cansado das
palavras, dos sons que teimosamente lhe perturbam os
sentidos, responde-me. - Do silêncio que falo é o silêncio

perfeito do silêncio que oiço, ondas em que me deito neste
mundo de ruídos catalogados por ausências sonoras que nos
desgastam. E eu, falo-lhe do meu silêncio. O meu silêncio é o
mundo onde me refugio, um mundo encantado de palavras
rasgadas, pintadas na folha de um papel branco. O meu
silêncio tem cores, melodias fantásticas, é nele que me deito
na hora dos cansaços, é nele que acordo na hora dos abraços.
Não há choros, lamentos, gritos desesperados; há vida, força,
encantamento, há paz, serenidade e as ruas desertas numa
imaginária cidade. Abro livros, leio com fervor as histórias
escritas, procuro a descrição da paz, e sinto nelas tanto de
verdade, e um mundo novo a desbravar, fascínio, ilusão...
Personagens inventadas num mundo virtual... e são tantas as

palavras... Gritam vozes lacrimejantes que descrevem a minha
biografia… dizes-me tu, nesse cansaço de palavras que te
preenchem os dias. Então, inventas um mundo, num
recanto qualquer dessa cidade que te viu nascer. E és só tu o
refúgio, crisálida escondida no silêncio do bater de asas de
uma borboleta…

São Gonçalves/JC Patrão



La ville vibre aux sons des gens qui courent, les rues grouillent
de marionnettes à la recherche d’un sens - des gens qui se
cachent et se perdent dans les sons d’un monde en évolution
constante et je cherche en eux le regard, les mots qui
définissent leur existence. Je demande à l’homme qui délire:
parle-moi de ton silence! Et l’homme fatigué des mots, des
sons qui ne cessent de lui perturber les sens, me répond: - le
silence dont je parle est le silence parfait du silence que
j’entends - des ondes où je me couche dans ce monde de
bruits catalogués par des absences sonores qui nous
consument. Et moi, je lui parle de mon silence. Mon silence
est le monde où je me réfugie, un monde enchanté de mots
déchirés, peints sur la feuille de papier blanc - mon silence a
des couleurs, il a des mélodies fantastiques, c’est en lui que
 je me couche à l’heure des fatigues, c’est en lui que je me
réveille à l’heure des caresses. Il n’y a pas de pleurs, pas de
lamentations, pas de cris de désespoir- il y a de la vie, de la
force, de l’enchantement, il y a la paix, de la sérénité - et les
rues désertes dans une ville imaginaire. J’ouvre des livres, je
lis avec ferveur les histoires qui y sont écrites, je cherche la
description de la paix et je sens en ces histoires tellement de
vérité, un monde nouveau à défricher, la fascination,
l'illusion... Personnages inventés dans un monde virtuel… et
ils sont tellement nombreux, les mots. Des voix en pleurs
crient et décrivent ma biographie… me dis-tu, dans cette
fatigue de mots qui te remplit les jours. Alors tu inventes un
monde, dans un quelconque recoin de cette ville qui t’as vu
 naître. Et ce n’est que toi le refuge, chrysalide cachée dans le
silence d’un battement d’ailes d’un papillon…

São Gonçalves/JC Patrão



Silhuetas

poeiras de vidro
...
suspensas no ar

veus de sombras

esquecidos

num espaço vazio

raios de luz

entrando

pelas frinchas

da janela

ventos dispersando

ecos sonoros

batendo
silenciosamente

no escuro

contraste

evidente

explosão

gotas de agua

lágrimas soltas

escorrendo

nos vidros

corpos delineados

a fumo

do cigarro da manhã

ilusão.

Lágrimas.

...
De braços caídos

no desconforto do inverno

o frio,brisa gelada

assobiando no espaço

despido o corpo franzino

agitado pela dor.


Já não ouve

já não sente

chora apenas

a fragilidade imposta.


Ah! frágil o equilíbrio

Ah! Forte os nervos

com que enfrentas

as tempestades

os medos.


De tempos a tempos

o sol ainda brilha

as lágrimas secam


  no conforto do descanso.


E de novo o vento norte

a geada abrupta

o desiquilibrio

o frio no corpo


E a primavera tão longe

e a esperança vigiando

no brilho das lágrimas.


 

Leveza.

Gosto de me sentir assim
... rio de águas calmas
vestido de verde
envolto em aromas
de jasmim....

Repouso meus braços
de águas correntes
na leveza das árvores
luz clara nas manhãs
sombras ondulantes
no leito de giestas
ternura á nascente.

Gosto dos espelhos
de luz e de sombras
reflexos transparentes
do sonhar cálido
abraços doces
de esperança
luz límpida
no olhar
de uma criança.


Na leveza das manhãs
doces e claras
desenho meus sonhos
em leitos de águas
frescas e raras.

Fragas.

Gosto de me sentir assim
... rio de águas calmas
vestido de verde
envolto em aromas
de jasmim....

Repouso meus braços
de águas correntes
na leveza das árvores
luz clara nas manhãs
sombras ondulantes
no leito de giestas
ternura á nascente.
Gosto dos espelhos
de luz e de sombras
reflexos transparentes
do sonhar cálido
abraços doces
de esperança
luz límpida
no olhar
de uma criança.


Na leveza das manhas
doces e claras
desenho meus sonhos
em leitos de águas
frescas e raras.
No lugar do Sol.


... Aprender a passar pelo tempo

e aceitar a palavra sussurrada

nos galhos das árvores

despidas na aridez do inverno

ser as respostas e as perguntas

ao frio incessante que rasga o olhar

neste fim de tarde.

Olho o sol e desejo um lugar

onde possa sentar -me nele

e esquecer o mundo.

Nada sei neste tempo que passa

aprendo devagar os enigmas
 
das vozes silenciosas

distantes.

Hoje não espero nada

não pergunto ao vento

se tenciona mudar de direcção

se amanhã será diferente de hoje

se o abraço se fera esquecido.

Hoje apenas desejo caber

no lugar do sol

nesta tarde fria

de inverno.
Dança


... Amplo o mar que vejo alongar-se

no esperguiçar cansado das aves

e dos sonhos exposto a brisa

como numa carta de marear

Contemplo a dança enigmática

os gestos subtis

entrelaçados das aves

e as ondas sobem e descem

numa dança ritmada

no invés do meu corpo calado.

Sinto o vento beijar-me a face

colo o meu corpo ao tempo

ao vento rasgando as velas

e as asas das gaivotas

e danço com elas .

Já me esqueci das vidas

onde me perdia

em consequentes bailados

inebriado do corpo esquecido

com os odores da natureza.

O presente é muito mais intenso

quando contemplo a dança

das aves moribundas

procurando um novo

porto de abrigo.


Foto-Rosa Mouzinho Santos.

Sobre o rio....

Os afluentes nunca chegam a foz...enriquecem o rio num determinado momento,num determinado tempo...num determinado espaço...e é isso o mais importante,o mar é o conjunto de todas as coisas...não o fim,mas a plentitude ,a grandeza....embora este livro termine num imenso mar de palavras...a autora ainda tem um imenso rio por navegar...se perder e se encontrar...até chegar a foz.

sábado, 23 de junho de 2012

Imaginação.

Crescem plantas novas
...
nas lezirias resplandescentes de luz

Trazem no peito a esperança

de quem ergue o olhar

ao Sol,astro dominante

iluminando as searas

ainda em fase

de renovação


Crescem cidades novas

nas cidades do pensamento

Já está próxima a primavera

e o sol já brilha

nos espelhos dos teus olhos

sentimentos renascendo

no centro do teu mundo

nos lagos virgens

da tua imaginação.


Dos campos plantados no inverno

a planta rasga a terra em desejo

de contemplação.

Metamorfose das cores.

Para si Edite melo.
...

Em dias cinzentos visto-me de cores

das cores que pintas nas telas

esqueço-me no corpo as dores

e meus olhos sorriem

da luz que me trazes

sois resplandescentes brilhando

saídos de tuas magicas mãos

sentires enigmáticos

 
transversais

metamorfose das palavras

transmissão da arte

em formas secretas

desta ligação

que me traz sempre

uma nova luz

ao coração.

Habita em nós esta cidade

de traços finos e doces

dourada,dourada
...
da cor do mel.

Habita em nós esta cidade

de praias extensas

de céus brilhando

olhando as falésias

altas,altas

templos erguidos .

ao vento,ao tempo.
Habita em nos a luz

a claridade de uma luz

invisível e brilhante

escondendo a dor

em pequenas manchas

de dor ou de pranto.

Construimos cidades

de palavras,de sentir

de mãos dadas

com a magia do artista

construimos cidades

na forja do alquimista.
Imergir do silêncio

Em espaços abertos de luz
...
o sol brilha ,traços de calor

pedaços de Ser renascendo

aos poucos das entranhas

escuras ,marcas tatuadas

na pele clara ,no rosto suave

A brandura dos dias calmos

emergindo num tempo novo.

Do presente,nada acrescento

apenas a luz do amanhã

me traz esperanças novas.

As palavras encontram-se

nas encruzilhadas do silêncio .

Não sei,não conheço

todas as respostas

trago comigo as memórias

e as historias,

mas não lhes vislumbro
 
a direcção onde tudo se perdeu.

Não vejo encruzilhadas

nem espaços abertos.

Sei apenas da luz do sol

que um dia na minha alma

Nasceu.
Cruzam-se cores num espaço inabitado

Altar de promessas,de histórias contadas

as palavras da alma esculpidas a cinzel
...
a esperança renascida na alvorada

gravada em tons doces...mel

A terra cerzida a cores ocres

bordado de emoções tricotado pelas mãos

ásperas ,doridas ,de tanto escrever emoções.

Vitrais inacabados ,esperando o silêncio dos muros

a força da luz jorrando

pelas frinchas da mente em construção.
Espírito vagueando nos escombros de um mundo

de cores vivas,abobada celeste iluminando

as entranhas fecundas de um corpo renascido

a vida a fuga,a luz,o céu ...

Libertação!

Na planície branca ,calada e profunda

pinto a ternura com gestos suaves

o sentimento deslizando vagaroso..
...


Tons quentes,intensos,rubros

a imagem perfeita da Paixão


E na paz revisitada dos traços

invento um novo mundo

a cor esquecida da vida

a dor... o amor...a compaixão.
Silencioso o mistério dos traços

contornos femininos em suspensão

traços de dor na posição que olhas
...
o chão deslizando nos passos

a dor agarrada à terra

e o momento calado em que gritas

o desespero das horas vazias

Vestida de branco,ergues o corpo

o olhar contemplativo

invisível ao espírito da derrota.

Nos traços do futuro

gravados na claridade do olhar

gritas o momento resgatado

nos gestos a renovação.