Dizia do mundo um espaço de dúvidas e anseios, a voz a ecoar algures , do outro lado da montanha. O temor dos invernos, essa estação sem luz nem calor! Encondia- se na matriz da terra, na força das árvores. Rasgava, então, as vestes e o corpo, e renascia sedenta de luz, de néctar, de transformação!
Sabia da fragilidade do corpo!
Conhecia a efemeridade do tempo!
Como Perséfone, habitava dois mundos, amava a noite e o dia, o pecado e a salvação! Entregava-se à claridade das manhãs, ao calor de verão! Das flores colhia o mais saboroso néctar!
Morria no torpor das tardes raiadas de vermelho, a nostalgia do crepúsculo, aspergindo sinais de despedida.
Longas eram as montanhas onde os homens carregavam as suas vidas, Tal Sisifo a carregar as dores do mundo!
Das pedras, escutava os rumores do silêncio, das flores o alimento da palavra. Nada era por acaso, no coração selvagem da mulher entregue aos desígnios dos sentimentos mais intensos.
São Gonçalves.
Foto- Manuela Nobre
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